sábado, 18 de março de 2017

Conteúdo - Tratamentos do Autismo


Os principais objetivos no tratamento de crianças com autismo são:

-Estimular o desenvolvimento social e comunicativo;
-Aprimorar o aprendizado e a capacidade de solucionar problemas;
-Diminuir comportamentos que interferem com o aprendizado e com o acesso às oportunidades de experiências do quotidiano;
- Ajudar as famílias a lidarem com o autismo.

Para diminuir os deficits associados e a angústia da família e para aumentar a qualidade de vida e independência funcional. Não existe um único tratamento melhor e o tratamento é geralmente sob medida para as necessidades da criança. As famílias e o sistema de ensino são os principais recursos para o tratamento Estudos de intervenções têm problemas metodológicos que impedem conclusões definitivas sobre eficácia. Embora muitas intervenções psicossociais tenham alguma evidência positiva, sugerindo que alguma forma de tratamento é preferível a nenhum tratamento, a qualidade metodológica de revisões sistemáticas desses estudos tem sido geralmente pobres, os seus resultados clínicos são principalmente tentativa e há pouca evidência para a relativa eficácia das opções de tratamento.

Notícia - A descoberta rara de um elefante esquartejado na Grécia pré-histórica



Perto da cidade grega de Megapólis, escavações arqueológicas revelaram que os humanos comiam elefantes há 300.000 a 600.000 anos. Os resultados deste trabalho, de uma equipa do Ministério da Cultura da Grécia e da Universidade de Tübingen, na Alemanha, dão conta da descoberta de variados instrumentos de pedra usados pelos humanos daquela altura, juntamente com o esqueleto fossilizado de um elefante com sinais de esquartejamento.

Há 300.000 a 600.000 anos, o clima, a vegetação e a flora eram muito diferentes de hoje, permitindo inclusivamente a existência de elefantes na Europa. “No entanto, até agora os vestígios encontrados de elefantes desta época não estavam associados a actividades humanas”, conta  Eleni Panagopoulou, arqueóloga do Ministério da Cultura grego e coordenadora do estudo, publicado este ano na revista científica Antiquity. “Esta é a primeira descoberta de vestígios de corte e processamento de carne de elefante com artefactos de pedra nos Balcãs, e uma das poucas com esta idade em toda a Europa”, sublinha a investigadora.

Durante as escavações foram descobertos objectos de pedra talhada – feitos de radiolarito, sílex, calcário e quartzo – e ossos fossilizados de vários animais (bovídeos, cervídeos, roedores, aves, repteis, anfíbios, moluscos ou insectos), datados também com 300.000 a 600.000 anos. A descoberta mais surpreendente da escavação foram ossos dispersos e com sinais de corte, que correspondiam ao esqueleto completo de um elefante. Pertencia à espécie “Elephas antiquus”, que viveu na Europa, incluindo Portugal, e que se extinguiu há mais de 30 mil anos.

“As pessoas comiam elefantes. Eles eram muito valiosos para carne, gordura e até para fazer objectos em osso”, explica Eleni Panagopoulou. No entanto, não é claro como é que os elefantes eram obtidos para consumo humano. “A questão da caça de elefantes neste tempo está ainda em aberto. Ainda não sabemos se os elefantes seriam caçados, se seriam aproveitados elefantes encontrados mortos ou ambos.”

Tudo isto se passou muito antes do aparecimento do homem moderno, ou Homo sapiens sapiens, a nossa espécie. “Naquela altura, provavelmente naquela região vivia o Homo heidelbergensis”, explica a investigadora. Esta espécie de humanos foi identificada pela primeira vez em 1907 na região de Mauer, na Alemanha, e pensa-se que terá dado origem ao homem de Neandertal, extinto há cerca de 28.000 anos do seu último reduto na Europa, a Península Ibérica.

Designado Marathousa 1, o sítio arqueológico onde estava o esqueleto do elefante fica numa mina de carvão a céu aberto, tendo sido a própria exploração mineira a pôr à mostra os primeiros vestígios arqueológicos. Pensa-se que neste local existiu há milhares de anos um grande lago e um pântano com águas pouco profundas.

Marathousa 1 é o primeiro sítio de escavação na Grécia continental do Paleolítico Inferior (período iniciado há cerca de três milhões de anos, indo até há 250.000 anos). Apesar de a Grécia ter uma grande riqueza arqueológica, os estudos têm incidido fundamentalmente no período clássico e no final da pré-história, e são raras as investigações sobre a pré-história mais recuada. A equipa vai prosseguir a investigação no local. Os estudos nesta região são centrais para a compreensão da pré-história, refere um comunicado recente da Universidade de Tübingen, uma vez que se pensa que terá feito parte das rotas de migração dos primeiros humanos de África para a Europa e também um refúgio importante para as populações humanas, a fauna e a flora durante os períodos glaciares.

Texto editado por Teresa Firmino
Informação retirada daqui

Notícia - Viaja pelo mundo a viver há 20 anos em navios de cruzeiro


Mario Salcedo tem 65 anos e vive há cerca de vinte em navios de cruzeiro. Enquanto para a maioria das pessoas um cruzeiro não é mais do que uma escapadela fortuita, para este senhor é o seu dia-a-dia. Apesar de ter um apartamento num condomínio em Miami, nos EUA, prefere a vida em alto mar. E integra a elite de passageiros permanentes que, tal como ele, fazem de um navio o seu lar.

«Super Mario» é o nome que pode ler-se na pequena placa feita à mão, pendurada na porta de uma cabine no deque 11 do Navigator of the Seas. É o escritório de Mario Salcedo, onde ele trabalha no seu negócio de gestão de investimentos. Claro que só o faz quando não está a dançar, a fazer mergulho ou a fumar um charuto num lounge do navio.

Apesar de há 20 anos não idealizar tornar umas férias de cruzeiro num estilo de vida, aos 45 achou necessário fazer uma mudança: quis iniciar um novo capítulo, viajando pelo mundo. Decidiu começar com um cruzeiro. Depois de muito procurar e de ter viajado noutras companhias, reservou uma viagem no maior navio da época, o Voyager of the Seas, da empresa Royal Caribbean . A partir daí, sempre foi fiel a esta companhia de cruzeiros. Está agora prestes a comemorar a noite número 6 mil com a Royal Caribbean, depois de já ter passado por 850 cruzeiros desta companhia. A bordo, todos o conhecem.

O orçamento anual de «Super Mario» para as suas viagens varia entre 60 a 70 mil dólares. Os voos são pagos com cartão de crédito para ganhar milhas e poder pagar com elas o transporte aéreo entre as cidades de onde partem os navios. Salcedo reserva sempre tudo com mais ou menos dois anos de antecedência, o que lhe permite ficar sempre na mesma cabine – onde apenas dorme e toma banho – durante vários cruzeiros consecutivos.

Para não ter gastos exagerados, Mario Salcedo tenta manter aquilo a que chama “equilíbrio”: salta uma das refeições do dia e tenta comer de forma inteligente. Durante os dias em que o navio está atracado nos portos, dispensa a maioria das excursões pelas cidades e fica a dedicar-se a uma das suas grandes paixões – o mergulho. Os dias em alto mar são os seus preferidos – é aí que pode fazer novos amigos, dançando, saboreando uma bebida depois do jantar, e vendo jogos de basquetebol e futebol na televisão.

Durante todo o ano, «Super Mario» passa apenas 15 dias em terra, muitos dos quais aproveitando para ir ao médico ou ao banco, ou a viajar para a próxima escala do novo cruzeiro.








Governo reitera intenção de reduzir número de alunos por turma


O secretário de Estado da Educação reiterou a intenção do Ministério da Educação de reduzir de forma progressiva o número de alunos por turma, já no próximo ano letivo, embora o assunto ainda esteja em debate, avança a agência Lusa.

“O ministro da Educação disse já que é nossa intenção reduzir de forma progressiva”, referiu João Costa, no grupo de trabalho da Comissão de Educação criado para analisar os projetos de lei de Os Verdes, Bloco de Esquerda e PCP sobre a matéria, acrescentando que tem de ser salvaguardada a continuidade pedagógica e que o debate público sobre esta matéria está em curso e que terá de estar concluído em março.

O secretário de Estado sublinha que é unânime que a redução do número de alunos é importante mas alerta que não deve ser apenas administrativa, mas deve ter em conta a promoção do sucesso escolar. “Há um consenso alargado por todas as pessoas. Se fosse uma questão menor não tinha consenso tão alargado.”

O grupo de trabalho da Comissão de Educação está a debater o número de alunos por turma, mas também o número de alunos por professores e o estudo em consonância com a autonomia das escolas de algumas disciplinas serem semestrais.

sexta-feira, 17 de março de 2017

Conteúdo - A precisar reduzir os níveis de stress? Coma mais fruta e vegetais


Se o seu dia-a-dia é muito stressante, saiba que deve comer mais fruta e vegetais para tentar reduzir os níveis de stress. Esta é a sugestão de um estudo australiano que concluiu que consumir cinco a sete porções de fruta e vegetais ao longo do dia baixa os níveis de stress psicológico, especialmente nas mulheres.

O estudo, publicado na revista British Medical Journal Open, indica que as pessoas que consomem cinco a sete porções de fruta e vegetais diariamente têm 14% menos risco de stress do que as que consomem zero a quatro porções. Sendo que no caso das mulheres, comer cinco a sete porções de fruta e vegetais diminuía o seu risco de stress em 23%.

Apesar de demonstrar que basta um consumo diário moderado de fruta e vegetais para ter níveis mais baixos de stress psicológico, o estudo realizado pela Universidade de Sidney destaca ainda que por cada vegetal ou fruta extra que adiciona ao seu prato, reduz os níveis de stress em 5%.

Segundo reporta o Hindustan Times, para este estudo a equipa de investigadores analisou mais de 60 mil australianos com 45 ou mais anos de idade e mediu o seu consumo de fruta e vegetais, bem como fatores de estilo de vida e stress psicológico (onde se teve também em conta a ansiedade e a depressão) entre 2006 e 2008 e em 2010.

As conclusões deste estudo surgem pouco depois de um outro estudo ter sugerido que comer dez porções de fruta e vegetais por dia ajuda a viver mais e melhor.

Informação retirada daqui

Notícia - Fauna perigosa


Cuidado com as picadas e mordeduras

As férias levam-nos a um contacto mais próximo com a mãe-natureza, desde o frenesim balnear até às actividades mais radicais nas serranias, passando por uma sesta à sombra de uma árvore. O biólogo Jorge Nunes revela alguns dos riscos que podem resultar de encontros indesejáveis com a nossa fauna mais perigosa.

O Verão convida a passeios na natureza e o calor incita aos corpos desnudados, às t-shirts, aos tecidos finos e às sandálias. Como este é o período do ano em que a bicharada anda igualmente mais activa (numa roda-viva à cata de alimento, atarefada com a reprodução ou a alimentar e proteger a prole), tudo se conjuga para acontecerem alguns encontros indesejáveis. Os bichos nem sequer têm a intenção de nos incomodar: se puderem, evitam-nos a todo o custo e fogem a sete pés. Somos nós que, frequentemente, nos chegamos perto demais e os incomodamos ou ameaçamos com as nossas actividades de veraneio. E o mais curioso é que o perigo não vem dos grandes animais da nossa fauna. Alguns dos mais incómodos são até de reduzidas dimensões, uma vez que a perigosidade resulta principalmente dos seus arsenais químicos constituídos por substâncias venenosas (toxinas).

As mordeduras e picadas, muitas vezes, não passam de pequenos sustos e breves momentos de dor. Contudo, principalmente em pessoas alérgicas ou com saúde debilitada e ainda em crianças e idosos, podem ter consequências mais graves, como a reacção anafilática, uma reacção alérgica do organismo ao veneno que pode pôr em risco funções vitais como a respiração e a circulação sanguínea e por isso exige ajuda médica urgente. De igual modo, as ferroadas ou mordidelas infligidas por animais mais invulgares devem ser objecto de aconselhamento médico, pois cada pessoa apresenta reacções específicas às diferentes toxinas. Para quaisquer esclarecimentos sobre picadas e mordeduras de animais, telefone para o Centro de Informação Antivenenos (808 250 143 ou 112), entidade ligada ao Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), que se encontra disponível 24 horas por dia.

Riscos à beira-mar

No litoral português, não se encontram animais verdadeiramente perigosos. No entanto, as picadas dolorosas dos peixes-aranha, dos ouriços-do-mar, das alforrecas, dos rascassos, das moreias e das raias (os dois últimos só constituem uma verdadeira preocupação para os mergulhadores) podem exigir acompanhamento médico. Apesar de a orla marítima não apresentar grande perigo, convém verificar onde põe os pés, designadamente em poças de água das zonas rochosas (onde podem esconder-se ouriços-do-mar e rascassos). Evite tocar em massas gelatinosas que podem ser alforrecas ou partes dos seus tentáculos e, em zonas em que ocorram frequentemente picadas de peixes-aranha, utilize sandálias de plástico, uma vez que é impossível ver ou prever onde se escondem.

Os peixes-aranha e os rascassos possuem espinhos venenosos nas suas barbatanas dorsais, pelo que as suas picadas não resultam de qualquer ataque, mas de serem pisados inadvertidamente. Os peixes-aranha surgem principalmente em praias arenosas, em águas pouco profundas, enterrados na areia. Picam nos pés quando são pisados e, em casos muito excepcionais, no abdómen das crianças, quando estas se deitam na água para chapinhar em pequenas poças de água. Os rascassos, por seu lado, são habitantes característicos das zonas rochosas, surgindo dissimulados entre a vegetação que atapeta as rochas submersas e as poças de água na maré baixa. Para aliviar a dor provocada pela picada dos peixes-aranha, pode recorrer-se ao calor, colocando o membro afectado em água quente. É ainda recomendável o uso de analgésicos e de antissépticos.

Os crustáceos (caranguejos e afins) e os polvos podem também infligir mordeduras, principalmente quando se introduzem as mãos em buracos ou espaços por baixo das pedras. Já os ouriços-do-mar, completamente revestidos de espinhos, criam algumas situações muito desagradáveis. Normalmente, exigem longas horas de pinça na mão para retirar todos os espinhos que ficam cravados na pele (a aplicação local de vinagre dissolve os espinhos, o que poderá tornar este tratamento menos moroso).

Fortalezas revestidas de veneno

As alforrecas e as caravelas-portuguesas, apesar do seu aspecto singelo e gelatinoso, constituem autênticas fortalezas revestidas pelos nematocistos (aparelhos de injecção de veneno). Trata-se de colónias de animais, com forma semelhante a um guarda-chuva, ou seja, com uma umbrela que serve de flutuador e a partir da qual pendem tentáculos em número e comprimento variável, consoante a espécie. Mesmo depois de chegarem mortas à praia e, por vezes, despedaçadas, os fragmentos de tentáculos mantêm as suas capacidades urticantes e são tão perigosos quanto o indivíduo vivo, pois os nematocistos permanecem activos durante muito tempo após a morte.

O contacto com as alforrecas provoca dor intensa, edema local, cãibras musculares e queimaduras dolorosas, que deixam flictenas (vesículas com líquido que caracterizam as queimaduras de segundo grau) na pele humana. O toque nas alforrecas pode ser especialmente perigoso quando a vítima está a nadar num local sem pé, uma vez que a dor insuportável pode levar o nadador a entrar em pânico, provocando o seu afogamento.

Os danos provocados pelas vesículas saram em dois ou três dias. Porém, nos casos mais graves, é possível que permaneçam cicatrizes por mais de um ano. Os sintomas são a dor aguda e imediata e o prurido persistente, apresentando como lesões os eritemas e as queimaduras. O tratamento, que deve fazer-se com a maior brevidade possível, consiste na remoção imediata dos fragmentos de tentáculos que fiquem presos à pele, seguido da aplicação local de creme gordo e de analgésicos e anti-inflamatórios sistémicos.

Ameaças por via aérea

Do ar, chegam igualmente perigos inesperados, que são perpetrados pelos insectos voadores. Nos himenópteros (insectos que possuem dois pares de asas membranosas), merecem destaque a abelha e a vespa. Uma simples picada de um desses insectos, para além da dor que provoca, pode acarretar situações mais graves. Assim, as pessoas que possuem antecedentes alérgicos devem trazer sempre consigo os “primeiros socorros” prescritos pelo médico, uma vez que pode ser-se picado nos lugares mais inusitados.

A abelha possui um ferrão farpado, ligado a três glândulas de veneno, que fica preso à ferida após a picadela e, caso não seja retirado, continuará a injectar veneno. Como o pequeno insecto fica extirpado aquando da picada, acabará por morrer (só consegue utilizar o ferrão uma única vez). O veneno das abelhas é constituído por várias substâncias (apitoxina, histamina, serotonina, cininas, entre outras). A quantidade injectada por uma única abelha é demasiado pequena para colocar em risco a vida de um ser humano. No entanto, picadas múltiplas, resultantes de um enxame, poderão originar situações potencialmente mortais.

No caso de a vítima ser alérgica, uma única picada pode desencadear igualmente reacções sistémicas graves (como urticária generalizada, reacção asmática ou choque anafilático). Também as picadelas na boca ou nas vias respiratórias superiores constituem sempre motivo de enorme preocupação e de emergência médico-cirúrgica, devido ao facto de o edema local poder obstruir as vias respiratórias e provocar a morte por asfixia. Felizmente, no comum dos mortais, a picada da abelha origina apenas dor intensa e leva à formação de um pequeno inchaço branco rodeado por uma zona avermelhada (que poderá evoluir para um edema local), que se vai desvanecendo nos dias subsequentes.

O tratamento de uma picada de abelha deve começar sempre pela remoção do ferrão para evitar que continue a injectar veneno. Deve seguir-se a desinfecção com um antisséptico, o controlo da dor com aplicação local de gelo e de compressas humedecidas de bicarbonato ou amónia (ajudam a neutralizar o veneno, de características ácidas). Por último, como terapêutica, utilizam-se analgésicos e anti-histamínicos.

A vespa distingue-se com facilidade da abelha devido à sua cor amarelada e às manchas negras nos segmentos abdominais. Este insecto possui um ferrão sem farpelas, pelo que não fica preso à vítima, o que lhe permite infligir picadas múltiplas. O seu veneno também é diferente do da abelha e, devido ao facto de o ferrão não ficar na ferida, é geralmente inoculado em pequena quantidade. No entanto, não há bela sem senão. As vespas podem originar infecções com mais facilidade, uma vez que o ferrão transporta agentes infecciosos, em virtude de se alimentarem de cadáveres em decomposição.

A picada da vespa provoca dor intensa e origina edema e inflamação local que, se não forem tratados, podem persistir até 15 dias. O tratamento é similar ao da picada de abelha, com duas pequenas diferenças: não é necessário retirar o ferrão e, devido ao facto de o seu veneno ter características alcalinas, as compressas de bicarbonato devem ser substituídas por compressas embebidas em vinagre ou sumo de limão (substâncias ácidas).

Nos dípteros (insectos que possuem um par de asas membranosas), incluem-se as moscas, os mosquitos e as melgas, insectos que são também muito incomodativos. As suas picadas, especialmente em destinos exóticos e climas tropicais, podem ter grande importância médica, devido à transmissão de agentes infecciosos de que são vectores. Por cá, as picadas das moscas e de insectos afins provocam apenas dor, podendo em alguns casos levar a inflamação local com formação de inchaço avermelhado e prurido intenso.

O tratamento das picadelas de dípteros é relativamente simples, uma vez que as suas consequências são limitadas e evoluem geralmente de forma rápida e favorável. A aplicação local de gelo, a lavagem com água corrente e a aplicação de uma loção calmante permitem diminuir o sofrimento. O melhor método para evitar estas picadas consiste em utilizar cremes repelentes e fazer nebulizações das casas com insecticidas.

Perigos terrestres

Os passeios pedestres, como não podia deixar de ser, também escondem os seus perigos, que tanto podem vir de pequenas carraças e aranhas como de alguma cobra venenosa que seja perseguida ou importunada.

Apesar de quase todas as aranhas produzirem venenos neurotóxicos (que afectam o sistema nervoso) ou necrosantes (que matam as células), a esmagadora maioria das espécies europeias não possui quelíceras (agulhas de injecção de veneno) suficientemente robustas para perfurar a pele humana. Assim, as picadas de aranha são extremamente raras no nosso país, sendo a viúva-negra-europeia e a tarântula-europeia duas das poucas espécies que poderão incomodar o homem.

A viúva-negra-europeia tem cerca de um centímetro de comprimento, é escura, com algumas linhas brancas, e possui 13 manchas vermelhas vivas no abdómen. Só a fêmea parece ser perigosa, e a gravidade da sua picada varia com a estação do ano e com a sensibilidade da vítima. Embora o seu veneno seja considerado mais tóxico do que o da maioria das serpentes venenosas, devido às suas reduzidas dimensões e à ínfima quantidade que é injectada numa picada, os especialistas consideram que só poderá existir perigo de morte em crianças com peso inferior a 15 quilos.

A picada da viúva-negra pode quase não ser sentida, embora na maioria dos casos exista alguma dor localizada. No local de penetração das quelíceras, notam-se, geralmente, dois pontos vermelhos e surge edema. Dez a quinze minutos após a picadela, aparecem os primeiros sintomas essencialmente neurotóxicos (agitação, abrandamento das frequências cardíaca e respiratória, cãibras musculares generalizadas, suores profusos e hipersalivação, entre outros). O tratamento consiste no repouso absoluto, na colocação de um garrote acima do local da picada e na administração de analgésicos (a colocação de um cubo de gelo sobre o local da picada permite aliviar a dor). As vítimas deverão ser conduzidas à presença de um médico o mais rapidamente possível (assim, evitam consequências maiores, poderão começar a recuperar ao fim de 12 a 24 horas e curam-se em um ou dois dias).

A tarântula que se encontra em Portugal é uma aranha que não produz teia e que usa as cavidades naturais do terreno para se refugiar. As suas patas são robustas e peludas, apresentando o cefalotórax também peludo e vermelho escuro, com bandas castanhas. O abdómen é acastanhado com manchas negras. Apesar do seu aspecto feroz, não é agressiva. Com efeito, só pica quando é atacada e o seu veneno não é dos mais perigosos. Após a picada, pode existir localmente dor não muito intensa, seguida de edema e formação de uma pequena acumulação de pus que acabará em bolhas de água. Esta lesão pode deixar uma ulceração profunda, com necrose e eventualmente gangrena ao fim de uma semana. A cura tardará cerca de seis a oito semanas. Também neste caso, é aconselhável assistência médica com urgência.

Escorpiões ao entardecer

Essencialmente ao entardecer, em zonas secas e pedregosas, os escorpiões (também conhecidos como “lacraus” em muitas regiões do país) deixam os seus abrigos subterrâneos e tornam-se mais activos. A gravidade das suas picadas depende de vários factores, como a quantidade de veneno inoculado, a idade e o peso da vítima e o local do corpo afectado. No que respeita à quantidade de veneno, obviamente que quanto maior for a porção de veneno inoculado, mais graves serão as consequências. No que concerne à idade e ao peso da vítima, quanto menor a idade e o peso, maiores as preocupações, pois o veneno tenderá a ficar em concentrações muito maiores num organismo que possua menor massa corporal.

Quanto ao local da picada, ele é geralmente circunscrito aos membros inferiores e superiores, pois as picadas costumam ocorrer quando se pisam os lacraus com os pés descalços ou se apertam inadvertidamente com as mãos. Felizmente, nas plantas dos pés e nas palmas das mãos, devido à espessa camada epidérmica, a difusão do veneno é geralmente limitada. O mesmo não acontece com outras zonas do corpo onde, apesar de serem muito mais raras, as picadas inspiram cuidados maiores, devido ao perigo de inoculação profunda do veneno.

Após a picada, os sinais no local podem ser quase imperceptíveis, mas a dor é muito intensa e o membro afectado tenderá a formar edema, podendo até ficar temporariamente paralisado. Os sintomas são variados: ansiedade, arrepios, cãibras musculares e hipotensão. A dor manter-se-á várias horas, especialmente se o paciente não for medicado, e os sintomas podem persistir durante vários dias (podendo os neurológicos prolongar-se por mais de uma semana). O efeito do veneno geralmente não é fatal, excepto quando as vítimas são crianças de tenra idade ou sofrem de hipersensibilidade.

O membro afectado tem de ser imediatamente imobilizado e colocar-se um garrote na proximidade da picada. Para controlar a dor, sugere-se a aplicação de gelo ou de cloreto de etilo no local da picada ou de compressas quentes embebidas numa solução de bicarbonato de sódio, para neutralizar o veneno. O acompanhamento médico deve fazer-se com a maior brevidade possível, principalmente quando se trata de crianças, que podem facilmente entrar em estado de choque.

Vectores de bactérias

As carraças, também vulgarmente denominadas “carrapatos”, para além de injectarem neurotoxinas aquando da sua picada, podem ainda ser vectores de diferentes bactérias. A febre da carraça ou dos fenos é apenas um dos exemplos e, se não for tratada, pode levar a afecções articulares, neurológicas ou cardíacas graves. Os primeiros sinais da doença consistem no surgimento de uma grande mancha cutânea nas duas a três semanas após o encontro indesejável, que é usualmente acompanhada de febre, rigidez nas articulações e fadiga intensa. Mas estes parentes afastados das aranhas podem também inocular uma forma benigna de tifo, designada por “tularémia”. Neste caso, a picadela origina febre e manchas vermelhas (semelhantes às do sarampo), que surgem geralmente cerca de quinze dias após a picada. O acompanhamento médico e a utilização de antibióticos adequados costumam resolver o problema com alguma facilidade.

Para nossa felicidade, nem todas as carraças são portadoras de bactérias e como tal nem sempre provocam doenças. As suas picadelas costumam ser indolores, pelo que, após realizar um passeio no meio da vegetação, deve verificar-se a roupa e o corpo para despistar a eventual companhia de um destes parasitas (que se fixa no hospedeiro através da sua zona bucal, o rostro, por onde suga o sangue). Como se fixam firmemente, é conveniente evitar puxá-las, pois poderão partir-se e deixar o rostro preso à pele, podendo originar infecções. Para as remover na sua totalidade, é preferível utilizar algodão embebido em éter, o que provoca a retracção do rostro e fá-las desprenderem-se. O tratamento da picada faz-se essencialmente a nível local, através da utilização de pomadas.

Cobras e víboras

Embora as pessoas em geral nutram pouca simpatia por estes magníficos animais rastejantes, os ofídios (cobras e víboras) tudo fazem para evitar cruzar-se connosco. No entanto, dada a coabitação de algumas espécies com as construções humanas, é natural que ocorram encontros inusitados, que se forem aproveitados para admirar a beleza dos animais, a distância segura, só deixarão boas recordações.

Das dez espécies de ofídios existentes no nosso país, apenas quatro podem ser potencialmente perigosas (as restantes são totalmente inofensivas), uma vez que são as únicas que possuem dentes inoculadores de veneno. Duas dessas, a cobra-rateira e a cobra-de-capuz, embora venenosas, não são consideradas perigosas para o homem, dado que os seus dentes venenosos se localizam na região posterior dos maxilares: só conseguem inocular o veneno ao deglutir as presas. Assim, com dentes inoculadores de veneno que se localizam na região anterior dos maxilares superiores, surgem como eventualmente perigosas apenas duas espécies: a víbora-cornuda e a víbora-de-Seoane.

Apesar da perigosidade da mordedura das víboras, convém lembrar que são répteis habitualmente pacíficos e que facilmente se distinguem das outras serpentes: possuem a cabeça triangular bem diferenciada do pescoço, a pupila vertical, a ausência de placas cefálicas (escamas de grandes dimensões presentes na parte superior da cabeça), uma linha dorsal escura em ziguezague, comprimento inferior a 70 cm, corpo robusto e cauda curta. As suas mordeduras atingem geralmente os membros inferiores, pelo que é aconselhável utilizar calçado protector e calças grossas, especialmente nas zonas rochosas e montanhosas que constituem os seus habitats.

O primeiro sintoma de se ter sido mordido é a dor local, de início súbito e intensidade variável. O edema inicia-se rápida e progressivamente durante as 24 horas seguintes. Os sintomas gerais são habitualmente moderados: ansiedade, hipotensão, hipertermia, dores abdominais, náuseas, vómitos, diarreia nos casos mais graves e ocasionais alterações cardíacas. A evolução é habitualmente benigna, embora possa haver necrose da zona mordida e o edema possa demorar várias semanas a ser reabsorvido.

Mais vale prevenir

A mordedura torna-se muito perigosa e preocupante se a vítima for uma criança ou se ocorrer em zonas do corpo mais sensíveis, como o rosto e o pescoço. Como tratamento inicial, sugere-se o posicionamento da vítima em repouso, a lavagem imediata da ferida com água e a aplicação de gelo no local da mordedura, para acalmar a dor. Um dos procedimentos clássicos consiste ainda na colocação de um garrote, embora exista muita controvérsia sobre a eficácia desta prática. Após estes cuidados iniciais, deve providenciar-se o tratamento hospitalar com a maior brevidade possível.

Como diz o adágio popular, “mais vale prevenir do que remediar”. Por isso, caso se cruze com alguma víbora, afaste-se para uma distância segura e nunca tente capturar ou matar o animal. Lembre-se que essa visão fugaz é um prémio da natureza, pois esses répteis são animais raros e devem merecer o nosso respeito e protecção. Afinal, tal como muitos outros “animais perigosos”, só atacam e mordem se forem incomodados.

Retirado de:
J.N.
SUPER 147 - Julho 2010

Higiene e Segurança no Trabalho - Armazenagem de Materiais, Equipamentos e Resíduos


Download 1 - Dropbox
Download 2 - Mega
Download 3 - Google Drive
Download 4 - Box

Powerpoint sobre Educação Ambiental - Finalidade e Objetivos

Download 1 - Dropbox
Download 2 - Mega
Download 3 - Google Drive
Download 4 - Box

Professores trabalham, em média, mais de 46 horas por semana - 1




Vídeo - PCQA

quinta-feira, 16 de março de 2017

Desenhos para colorir - Outono


Concurso de Docentes 2017 - Apuramento de Vagas

Biografia - Aristóteles, Sócrates, Diógenes, Platón, Eurípides, Heródoto, Sófocles.

Biografia - M.C. Escher


A Matemática de M.C.Escher


Desta vez trago-vos um tema diferente. É sobre o artista gráfico holandês M. C. Escher.
Escher conseguiu aplicar a Matemática, mais precisamente a Geometria, aos seus trabalhos. As suas obras são conhecidas pelo irreal, ilusão espacial e repetição de figuras geométricas. Embora tenha sido péssimo aluno a Matemática e a Artes, Escher consegue cativar reputados matemáticos e cristalógrafos. Ele próprio afirmou que, por vezes, se sentia mais perto do domínio da Matemática que os seus colegas matemáticos! Observando cuidadosamente as suas gravuras, apercebemo-nos das estruturas complexas, criadas geometricamente, que requerem várias observações até se compreender a gravura — se a conseguirem compreender...!!
Escher baseou-se em figuras geométricas de azulejos mouros e na Cristalografia para criar os seus trabalhos. Mas foi mais longe! Pegou nos seus simples desenhos e repetiu-os em série no plano, aplicando múltiplas deslocações e deformações geométricas do desenho base. Estas séries repetem-se até ao infinito, unicamente limitadas pelos limites do papel!
De facto, Escher começou por construir as suas ideias com figuras geométricas. No entanto, o truque engenhoso foi substituir as figuras por pássaros, peixes, lagartos... sem criar espaços perdidos! Mas nunca abandonou os ideais geométricos da translação, simetria, rotação e inclinação. De um modo geral, Escher substituiu as aborrecidas figuras geométricas por outras mais belas e atraentes, criando um maior sentido do uso da Geometria.
Vida e Obra
Se, depois desta pequena introdução, ainda estiveres interessado... poderás saber bastante mais da sua vida em World of Escher. Esta deve ser a primeira página a ser acedida, pois tem a maior concentração de informação sobre Escher. Além de uma Biblioteca (Library), inclui ainda uma loja de Souvernirs, um Concurso (experimentem), e uma Galeria de Arte. Nesta, clica sobre o ficheiro para ter uma análise e melhor reprodução.
Se quiseres uma maior colecção de obras, dirige-te à pagina de David Mcallister ou ThinkQuest 1997 Team 11750. Em ambos os casos, não te esqueças de clicar sobre as obras, para teres uma imagem maior. Se achares que não é suficiente, ou a última pecar pela lentidão de acesso, experimenta (aconselhável) um dos dois sites de FTP: o SUNET ou o deYale.
A Matemática
Perante tanta Arte, falta-nos ainda a nossa querida base científica: a Matemática. A informação sobre este tópico é quase inexistente. Mas, com muito esforço, consegui! NestaTurma de Matemática encontras análises de várias obras, com mini-exposições da técnica usada. Observa bem as páginas introdutórias, onde se mostram estudos gerais de aplicações simples. Aprenderás mais aqui, do que nas análises singulares. Repara nas pequenas alterações feitas; nas interpenetrações de figuras contíguas, alterando-lhes a cor; na inclinação das figuras. Aconselho vivamente a visita a esta página, pois é muito atraente e cativante. Este factor é condicionante para entender a complexidade da Geometria de Escher.
Uma outra página, mais complexa, é a de William Chow Aqui tenta-se explicar esta teoria de grafismos, para a aplicarmos a programas de computador. Infelizmente, a inexistência de imagens dificulta muito a sua compreensão. Por isso, é prioritário visitares a primeira página, e, só depois, esta.
Um Desafio...
Em todas as páginas, os infonautas são desafiados a criarem um gráfico à la Escher!! Toma como exemplos os de Jim McNeill ou os de HansKuiper. Esta última tem uma vasta colecção de links sobre este tema. Admira-te!!
Mas se, ainda assim, existir dificuldade em perceber toda esta Geometria de Escher, faz como eu: tenta criar as tuas próprias figuras. Será difícil, a princípio, mas muito cativante. Este é o verdadeiro encanto desta arte.
Para te facilitar, dar-te-ei algumas dicas. Toma o meu molde como exemplo.
Comecei com uma figura muito simples que me parecesse fácil de encadear (um peixe), e, só mais tarde, criei variações; eis o resultado. É importante que esta simples figura tenha uma simetria, mesmo que só aproximadamente, como a minha. Facilitará bastante o desenho do molde, se o inserires num rectângulo. (Se quiseres estar em vantagem relativamente a Escher, trabalha num computador.) Desenha só uma das metades da figura, criando uma segunda simetria implícita, e tenta criar novos moldes baseados no primeiro! Ao repetires o molde na tua obra, aplicando-lhe transformações geométricas, irás reparar que metade da vizinhança exterior é um cópia da metade interior do molde; parece óbvio (repara no meumolde final e na respectiva "obra"!), mas se observares os trabalhos dele, este segredo não é tão evidente. Logo, as várias silhuetas formam conjuntos sem quaisquer espaços perdidos; este ponto fulcral confunde o nosso pensamento, e é aqui que Escher demonstra a sua genialidade!
Rudolf Appelt

Biografia - Max Ludwing Plank

Físico alemão (Kiel, 23-IV-1858 — Göttigen, 5-X-1937). Estudou nas universidades de Munique e Berlim, tendo-se doutorado pela primeira em 1879. Interessou-se inicialmente pela termodinâmica, estudando sob orientação de H. von Helmholtz e de G. R. Kirchhoff. Tentou esclarecer o conceito de entropia, cuja importância demonstrou. Sucedendo a Kirchhoff na universidade de Berlim, desenvolveu importantes estudos sobre a radiação do corpo negro.

Em 1900, apresentou à Sociedade Alemã de Ciência sua teoria dos quanta, que era uma hipótese para interpretar o problema dessa radiação. A observação experimental indicava uma relação entre a temperatura e a cor da radiação, resultado que não podia ser explicado pela física clássica. Planck determinou a expressão matemática correta da distribuição das freqüências e, em seguida, introduziu sua concepção revolucionária, segundo a qual a energia emitida por qualquer corpo só poderia realizar-se de forma descontínua, isto é, segundo múltiplos inteiros de uma quantidade mínima, que denominou 'quantum de energia'.

O quantum de energia de um oscilador de freqüência v é dado pela expressão E=hv, onde h é uma constante universal, hoje denominada constante de Planck, e cujo valor é de 6,6252 × 10-27 erg por segundo. Max Planck recebeu o prêmio Nobel de física de 1918. A Kaiser-Wilhelm-Gesellschaft, de Berlim, de que foi presidente a partir de 1930, tem seu nome desde a II Guerra Mundial e é hoje a Max-Planck-Gesellschaft, a mais importante das fundações alemãs dedicadas à pesquisa científica.

Notícia - Como é que as bactérias respiram enxofre? Equipa portuguesa dá a resposta


Em vez de oxigénio, muitas bactérias respiram enxofre, mas alguns passos desta respiração não estão totalmente esclarecidos. Agora desvendou-se um desses passos – uma descoberta com aplicações potenciais na saúde humana ou na indústria do petróleo.

Quem já remexeu nas areias de uma ria durante a maré baixa talvez já tenha reparado que, por debaixo de uma camada fina de sedimentos claros, está outra camada quase negra. Esta cor escura deve-se à presença de bactérias que respiram enxofre em vez de oxigénio. Uma equipa do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB) da Universidade Nova de Lisboa, em Oeiras, em conjunto com cientistas de outros países, desvenda na edição desta sexta-feira da revista Science o mistério do processo de obtenção de energia durante a respiração destes microrganismos.

Afinal, no processo de respiração do sulfato, um dos compostos de enxofre mais abundante na Terra, existe um passo adicional. Sulfato, sulfito e sulfureto? Agora já não é só assim e a nova sequência de passos é esta: sulfato, sulfito, trissulfureto e sulfureto.

Certos microrganismos começam por respirar o sulfato (uma molécula que tem um átomo de enxofre e quatro átomos de oxigénio), que depois é convertido em sulfito (uma molécula de enxofre e três oxigénios) e o resultado final é o sulfureto (um átomo de enxofre sem oxigénio). Só que na passagem do sulfito para o sulfureto existe ainda mais um intermediário, até agora desconhecido – o trissulfureto, uma molécula mais complexa com três átomos de enxofre.

As bactérias que respiram enxofre formam um grupo muito variado e habitam muitos ambientes diferentes. “Onde existe uma maior concentração destes organismos é nos sedimentos marinhos”, conta ao PÚBLICO Inês Pereira, do ITQB, líder deste projecto de investigação. O resultado da sua respiração – o sulfureto – é precisamente o que dá a cor negra aos sedimentos da ria Formosa, por exemplo.

“O sulfato é muito abundante na água do mar. Nas camadas superficiais dos sedimentos, há oxigénio e vivem bactérias que respiram oxigénio. Como têm um metabolismo muito elevado, consomem muito oxigénio, de tal forma que um pouco mais abaixo já não existe oxigénio”, continua a investigadora. Nas camadas inferiores dos sedimentos, vivem outras bactérias, que respiram sulfato. “O sulfureto resultante da respiração reage com os metais existentes nos sedimentos, como o ferro, a que se deve a cor escura dos sedimentos.”

Mas em certos contextos, o sulfureto resultantes da respiração destas bactérias podem ter consequências negativas. “Estas bactérias existem também [naturalmente] nos nossos intestinos. Porém, nalgumas pessoas os sulfuretos podem causar uma resposta inflamatória nos intestinos”, refere Inês Pereira.

Os sulfuretos são também monitorizados, por exemplo, nas explorações petrolíferas no mar, onde o contacto entre estas bactérias presentes na água e o petróleo pode levar à produção de sulfureto, que é tóxico para os trabalhadores e reduz a qualidade do petróleo.

Voltando ao processo de respiração, é através dela que as células obtêm energia dos nutrientes. Durante o processo, libertam-se electrões dos nutrientes que têm de ser transferidos para outro composto químico: “No nosso caso, de cada vez que respiramos os electrões que extraímos dos alimentos são transferidos para o oxigénio, que é reduzido à água que sai na nossa respiração”, explica Inês Pereira.

Mas em ambientes em que não há oxigénio vivem organismos que respiram compostos alternativos, como o sulfato. “As bactérias redutoras de sulfato usam-no em vez do oxigénio e, em vez de produzirem água, produzem sulfureto”, continua a investigadora.

Sabia-se já que durante este tipo de respiração o sulfato, ao receber electrões, passa a sulfito e depois a sulfureto. Sabia-se também que era nesta fase que se produzia energia. Mas não se sabia como se formava o sulfureto nem como se produzia a energia. “Há muito tempo que tentávamos desvendar este mistério do último passo. Em 2008, conseguimos determinar a estrutura das duas proteínas envolvidas neste passo”, conta Inês Pereira.

A partir daqui, a equipa foi estudar o modo de acção destas duas proteínas em dois grandes grupos de seres vivos que respiram sulfato – bactérias e arqueobactérias. Foi um projecto que envolveu a equipa do ITQB durante mais de três anos e que contou com a colaboração de investigadores da Universidade de Bona (Alemanha) e da Universidade de Harvard (Estados Unidos).

Os cientistas isolaram estas proteínas e estudaram como actuavam tanto in vitro como nas próprias bactérias, alterando algumas partes, para compreender a sua acção. E assim desvendaram o mistério: uma das proteínas actua sobre o sulfito, que por sua vez se liga a partes da segunda proteína, formando assim um composto intermédio, o trissulfureto.

Descobriram também que este trissulfureto é depois transformado em sulfureto na membrana da célula — e, como em todos os processos envolvidos na produção de energia na célula, este último passo está associado à membrana celular.

“Agora que percebemos como se dá a produção do sulfureto a nível molecular, podemos arranjar inibidores para este passo”, conclui Inês Pereira. A equipa do ITQB está agora a iniciar esta investigação, que passa por criar moléculas pequenas capazes de impedir a respiração destas bactérias.

A respiração do sulfato é um processo muito antigo. Há 2500 milhões de anos, ainda antes de haver oxigénio na Terra, já existiam bactérias a respirar sulfato. “Mesmo antes disso, desde há 3500 milhões de anos, havia organismos a respirar compostos de enxofre, principalmente sulfito, tiossulfato e o próprio enxofre. O sulfato só apareceu mais tarde na atmosfera.”

A descoberta de um novo passo na respiração do sulfato terá assim implicações para o estudo da evolução do ambiente na Terra, pois os geoquímicos usam as taxas de processamento do enxofre para desenvolver modelos da evolução do ambiente na Terra ao longo das eras geológicas, sublinha um comunicado do ITQB. Esta descoberta afecta estes cálculos e estes modelos terão de ser revistos.

Em suma, a partir de agora os manuais de microbiologia terão de ser reescritos na parte sobre a respiração anaeróbica. E assim passa agora a constar sulfato, sulfito, trissulfureto e sulfureto.

Texto editado por Teresa Firmino
Noticia retirada daqui

Manuais escolares sem alterações no próximo ano letivo


A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) garantiu que não foram introduzidas quaisquer alterações nos manuais escolares do próximo ano. O Ministério da Educação (ME) esclareceu entretanto que não se justifica uma alteração, uma vez que não está prevista uma reforma curricular, mas sim uma “flexibilização curricular”, avança a agência Lusa.

O ME “está a preparar instrumentos de flexibilização curricular e não uma reforma curricular, pelo que não há qualquer motivo para se proceder à alteração de manuais escolares”, referiu à Lusa o ministério, que a 11 de fevereiro anunciou que no próximo ano letivo, os alunos dos 1º, 5º, 7º e 10º anos deverão estar a trabalhar já com flexibilização de currículos, o que vai permitir mais autonomia de decisão às escolas, cruzamento de disciplinas e mais trabalho experimental.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Conteúdo - Autismo - Diagnóstico


O diagnóstico do autismo baseia-se no comportamento e não nas causas ou mecanismo.O autismo é definido no DSM-IV-TR, tal como exibindo pelo menos seis sintomas no total, incluindo pelo menos dois sintomas de deficiência qualitativa na interação social, pelo menos, uma sintoma de deficiência qualitativa em comunicação, e pelo menos um sintoma de comportamento restrito e repetitivo. Sintomas da amostra incluem falta de reciprocidade social ou emocional, uso estereotipado e repetitivo da linguagem ou linguagem idiossincrática e preocupação persistente com partes de objetos. O início deve ser anterior a idade de três anos com atrasos ou funcionamento anormal em qualquer interação social, linguagem usada na comunicação social ou jogo simbólico ou imaginativo. A perturbação não deve ser melhor explicado por síndrome de Rett ou Transtorno desintegrativo da infância. O CID-10 utiliza essencialmente a mesma definição.

O autismo afeta, em média, uma em cada 88 crianças nascidas nos Estados Unidos, segundo o CDC (sigla em inglês para Centro de Controle e Prevenção de Doenças), do governo daquele país, com números de 2008, divulgados em março de 2012 — no Brasil, porém, ainda não há estatísticas a respeito do TEA. Em 2010, no Dia Mundial de Conscientização do Autismo, 2 de abril, a ONU declarou que, segundo especialistas, acredita-se que o transtorno atinja cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo, afetando a maneira como esses indivíduos se comunicam e interagem.O aumento dos números de prevalência de autismo levanta uma discussão importante sobre haver ou não uma epidemia da síndrome no planeta, ainda em discussão pela comunidade científica. No Brasil, foi realizado o primeiro estudo de epidemiologia de autismo da América Latina, publicado em fevereiro de 2011 — com dados de 2010 —, liderado pelo psiquiatra da infância Marcos Tomanik Mercadante (1960—2011), num projeto-piloto com amostragem na cidade paulista de Atibaia, aferiu a prevalência de um caso de autismo para cada 368 crianças de 7 a 12 anos. Outros estudos estão em andamento no Brasil.

Um dos mitos comuns sobre o autismo é de que pessoas autistas vivem em seu mundo próprio, interagindo com o ambiente que criam; isto não é verdade. Se, por exemplo, uma criança autista fica isolada em seu canto observando as outras crianças brincarem, não é porque ela necessariamente está desinteressada nessas brincadeiras ou porque vive em seu mundo. Pode ser que essa criança simplesmente tenha dificuldade de iniciar, manter e terminar adequadamente uma conversa, muitos cientistas atribuem esta dificuldade à cegueira mental, uma compreensão decorrente dos estudos sobre a Teoria da Mente.

Notícia - Fundador da Wikipedia promete mais qualidade e facilidade de edição


O fundador da Wikipedia, Jimmy Wales, afirmou-se hoje apostado na melhoria da qualidade e na implementação de programas que facilitem a edição da popular enciclopédia online de acesso livre construída por cidadãos comuns.

"A coisa mais importante que estamos a fazer é ter a atenção da comunidade focada na qualidade, fornecendo-lhes as melhorias de software que precisam para controlar melhor a qualidade do conteúdo", disse Jimmy Wales, em entrevista por e-mail à agência Lusa.

O presidente da Fundação Wikimedia, organização sem fins lucrativos gestora da Wikipedia e de outros serviços em suporte wiki, manifestou-se "satisfeito com o progresso", refletido no facto de "a maioria das pessoas considerar já a Wikipedia bastante útil".

"Queremos tornar o software mais fácil de usar para que mais pessoas nos possam ajudar a editar", referiu, salientando que a Wikipedia precisa tanto de doadores como de editores, porque "todos podem contribuir à sua maneira".

Jimmy Wales reconheceu que o futuro da Wikimedia passa pela colaboração das associações locais ("local chapters"), sublinhando que estas entidades "têm sido bem sucedidas em toda a Europa e, cada vez mais, por todo o Mundo".

"Em todo o mundo, o crescimento dos 'chapters' tem sido muito útil no apoio à popularidade e, sobretudo, à qualidade da enciclopédia", salientou.

Wales afirmou-se "muito entusiasmado" com a recente criação da Associação Wikimedia Portugal, notando que "é o primeiro 'chapter' formal a operar em língua portuguesa, que é atualmente "a nona mais forte" na Wikipedia.

Especialistas e utilizadores da Wikipedia vão reunir-se sexta feira na Exponor, Matosinhos, para analisar formas de melhorar a versão portuguesa da enciclopédia, naquele que será o primeiro evento público da Associação Wikimedia Portugal, criada em 2009.

Na opinião de Jimmy Wales, ainda "há muito a ser feito" para que a Wikipedia, lançada em 2001, atinja o seu objetivo maior: "um mundo no qual cada ser humano possa livremente partilhar a soma de todo o conhecimento".

"Acho que ainda estamos a cerca de 10/20 anos desse objetivo. O nosso crescimento em todas as línguas da Índia é forte, mas o nosso crescimento em línguas africanas ainda é lento. Há muito a ser feito", disse.

A Wikimedia recebeu recentemente um donativo de dois milhões de dólares (cerca de 1,47 milhões de euros) da Google, mas Jimmy Wales considerou "impossível" que esta empresa possa um dia querer comprar a fundação, dado o seu estatuto de organização sem fins lucrativos.

Sobre o projeto Wikinews, um site noticioso lançado em 2004 pela Wikimedia e que tem sido alimentado exclusivamente por cidadãos comuns, Wales referiu que "há muitas razões" para não ter tido o mesmo sucesso da Wikipedia, mas frisou que este serviço "continua a crescer".

Jimmy Wales comentou também o insucesso do Wikia Search, um motor de busca que lançou em janeiro de 2008 mas que acabou por não vingar.

"Foi um projeto da minha completamente separada empresa com fins lucrativos www.wikia.com. Pensamos que o Wikia Search estava a ter sucesso até ao momento em que, devido à crise financeira, não fomos capazes de reunir mais fundos para apoiá-lo", disse.

"Entretanto, tudo na Wikia estava a crescer tão rapidamente que não tivemos tempo para nos concentrarmos no projeto de pesquisa. Por isso, virámos a nossa atenção para o que estava a funcionar melhor", acrescentou.

Notícia - Não sou um monstro

O psicólogo norte-americano Mark Blumberg assegura que as deformações congénitas proporcionam informação valiosíssima sobre os mecanismos da evolução e da vida.

Numa das cenas mais impressionantes de Freaks (1932, intitulado A Parada de Monstros em Portugal), vários seres disformes encurralam uma rapariga entre as carripanas de um estranho circo. Depois de atacarem o amante da jovem, procuram apanhá-la no meio de uma terrível tempestade. Antes, ela tentara assassinar um dos perseguidores para ficar com todo o seu dinheiro. É verdade que a visão dos indivíduos provoca calafrios. Um deles, o príncipe Randian, não tem braços nem pernas; como se fosse um torso vivo, serpenteia pela lama com uma faca entre os dentes. Zip e Pip, os gé­meos siameses, sofrem de microcefalia, isto é, os crânios são diminutos em comparação com o de uma pessoa normal. Um anão com pouco mais de 60 centímetros de altura exibe uma navalha diante da mulher que tenciona matar. Outra personagem, interpretada pelo actor ­Johnny Eck, não tem pernas mas desloca-se com agilidade sobre as mãos.

Realizado pelo cineasta norte-americano Tod Browning (1882–1962), este filme é normalmente incluído no género de terror, mas pode também ser considerado um documentário, pois mostra sem contemplações os efeitos das mutações genéticas nos seres humanos. Os actores (atracções de feira ou de circo na vida real) deixaram uma marca profunda no psicólogo norte-americano Mark S. Blumberg, da Universidade do Iowa (http://www.psychology.uiowa.edu/faculty/blumberg). “Reparem no Johnny Eck. É tão gracioso que parece ir­real. Nós não evoluímos para nos deslocarmos como ele”, afirma, acrescentando: “O mais curioso é que o processo pelo qual aprendeu a caminhar com as mãos não é muito diferente daquele que todos têm de utilizar para poder andar sobre os pés e as pernas.” Blumberg é o autor do livro Freaks of Nature (que se poderia traduzir por “Extravagâncias da Natureza”), no qual desconstrói todos os estereótipos sobre o que habitualmente se considera serem aberrações físicas.

Esqueçamo-nos, pois, desses pobres indíviduos exibidos diante de um público crédulo e apreensivo por empresários sem escrúpulos como Phineas Taylor Barnum (1810–1891), criador de um lendário circo ambulante que possuía o seu próprio freak show. O psicólogo norte-americano defende, pelo contrário, que os “monstros” nos permitem reflectir sobre o produto de um projecto biológico diferente. Proporcionam-nos, em concreto, uma oportunidade para penetrarmos nos mistérios que a evolução biológica ainda esconde, 200 anos depois do nascimento de Charles Darwin.

Essas criaturas desenvolvem-se de uma forma tão extraordinária que a noção de que se trata de algo aberrante se desvanece quando as temos diante dos olhos. Se analisarmos as biografias de alguns dos participantes em ­Freaks, descobrimos factos tão surpreendentes como os que o filme mostra. Assim, Johnny Eck parecia cerceado pela cintura mas tinha, na realidade, uma espécie de pernas rudimentares ou cotos que escondia por baixo da roupa. O seu irmão gémeo Robert, colega em diversos espectáculos, nascera com um corpo normal. Nos seus 79 anos de vida, Johnny chegou a tocar piano com uma orquestra, foi piloto de corridas, conduziu locomotivas, pintou quadros, participou em três filmes de Tarzan e dedicou-se à magia. No filme de Brow­ning, apoia-se sobre um braço enquanto dirige, com o outro, um coro. “Temos um corpo capaz de fazer certas coisas e aprendemos a adaptar-nos. Não vejo diferenças entre aqueles que designamos, erradamente, por ‘monstros’ e o resto das pessoas”, sentencia Blumberg.

De acordo com esta perspectiva inovadora, cada um de nós representa uma dádiva da natureza, e aprendemos evolutivamente a lidar com os nossos corpos. O investigador conta que a ideia de escrever um livro com um ponto de vista tão original surgiu quando levava o seu cão a passear. O animal andava, corria de um lado para o outro, desacelerava, voltava a correr. Passados dois dias, o psicólogo reparou noutro cão que tinha perdido uma das patas traseiras num acidente e conseguia arranjar-se para andar na perfeição. Blumberg teve a ideia de averiguar em que consiste, verdadeiramente, o instinto animal. “Só nos lembramos de verificar de onde surge quando contemplamos corpos perfeitos. Foi por isso que comecei a estudar as chamadas ‘anormalidades’.”

Ao puxar pelo fio da meada, o psicólogo norte-americano descobriu outra excentricidade canina. Tratava-se de Faith, que nasceu no estado do Oklahoma sem as patas da frente. Em 2003, foi fotografado a andar tranquilamente: o cão tornara-se bípede! A investigação conduziu-o a outros exemplos semelhantes, como o de um babuíno selvagem com os braços muito pouco desenvolvidos que também se deslocava de pé. Houve, ainda, o caso da cabra nascida na Holanda, em 1942, e minuciosamente estudada pelo zoólogo Everhard Johannes Slijper. Tal como nos exemplos anteriores, veio ao mundo com apenas dois membros, mas corria e andava de forma natural, para espanto de quem a via.

Este derradeiro caso tem mais que se lhe diga. A especialista em evolução Mary Jane West-Eberhard, do Smithsonian Tropical Re­search Institute, descreve a surpresa do cientista holandês quando dissecou a cabra bípede, morta acidentalmente. Relata a experiência na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS): “Descobriu alterações muito apreciáveis nos músculos e nos ossos, incluindo transformações alucinantes nas patas traseiras e nos glúteos, mais espessos e alongados. Apresentava igualmente uma disposição inovadora dos pequenos tendões, uma caixa torácica modificada e importantes alterações na bacia.”

Sabia-se que o animal nascera com uma deficiência congénita, mas será que as adaptações tinham a mesma origem? Ou produziram-se devido à pressão ambiental? West-Eberhard admite que nos encontramos diante de um mistério evolutivo. E fala de um fenómeno, descrito como “fenótipo adaptado” (o fenótipo é a expressão física dos genes), que “podia ter desempenhado um papel na evolução da bipedestação dos vertebrados, incluindo os seres humanos”.

Everhard Johannes Slijper já tinha notado que as adaptações do seu exemplar andarilho eram muito semelhantes às de cangurus e orangotangos (estes últimos também andam, por vezes, na postura erecta). “A evolução da postura erecta nos seres humanos pode ter sido menos árdua ou longa do que se pensava, como suspeitam alguns antropólogos”, conjectura West-Eberhard. As características anatómicas do bipedismo incluem alterações na massa muscular, no comprimento dos tendões e no tamanho do tórax e da bacia. “As mesmas singularidades que se observavam na cabra”, sublinha a autora do ensaio.

Trata-se da luz que um monstro pode lançar sobre a evolução. “Esse tipo de indivíduos não é tomado em consideração quando se aborda a questão”, afirma Blumberg. “Não digo que um cão com duas patas vá dar origem a uma nova espécie, pois semelhantes efeitos podem ser causados tanto pelos genes como pelo ambiente. Tenho na minha frente, precisamente, a fotografia de uma serpente bicéfala. Sabemos que a anomalia não é congénita; deve-se a uma alteração profunda no meio ambiente.”

Blumberg refere-se à população da cobra-de-água-de-colar (Natrix natrix) do Reino Unido. O ofídio põe os ovos entre montes de esterco, cuja decomposição produz o calor necessário para poderem eclodir e as crias sair. Contudo, se a temperatura ultrapassar os 40 graus, poucas conseguem sobreviver e, dessas, uma pequena percentagem nasce com mais uma cabeça. Os zoólogos têm conhecimento de centenas de casos.

Ainda no campo da bicefalia, poucos sabem que dois por cento dos ovos de pato produzem siameses com essa característica. Não foi possível discernir causas genéticas, mas há, em contrapartida, factores que se podem atribuir à forma como o próprio ovo gira dentro do útero largo e elástico da fêmea. Determinados movimentos de rotação dão origem a freaks: ao que parece, os elementos químicos do interior são subtilmente alterados.

O próprio Darwin erguia as sobrancelhas perante semelhantes anomalias. A origem da variabilidade sempre constituiu um mistério para o “pai da evolução”, embora seja indispensável para a intervenção da selecção natural. Hoje, sabemos que toda a maravilhosa e sofisticada versatilidade que observamos na natureza, as adaptações dos animais mais exóticos, o modo como encaixam perfeitamente em cada habitat, resultam da acção que essa selecção exerce sobre uma infinidade de opções proporcionadas pelo material genético.

Todavia, como já vimos, não é a única fonte de modificação biológica. Os misteriosos caminhos do processo embrionário podem também ser frutíferos nesse sentido. É aquilo que alguns especialistas designam por “desenvolvimento plástico”. Blumberg rebate, no seu livro, um comentário de West-Eberhard: “Argumentos poderosos contradizem a sua opinião, segundo a qual as inovações causadas pelas mutações genéticas possuem um potencial evolutivo superior. Um factor ambiental pode afectar diversos indivíduos, enquanto uma mutação influencia, em princípio, apenas um.”

Perfeito. Nesse caso, perguntaria um cauteloso Charles Darwin, que vantagens pode proporcionar uma aberração? “No século XX, depois de redescobrir as experiências de Mendel, os cientistas modificaram a perspectiva da evolução darwinista, transformando-a num processo contínuo de alterações cuja origem era exclusivamente genética. Trata-se de uma postura inflexível”, responde Blumberg. No entanto, houve quem se opusesse à todo-poderosa tendência de pensamento. Blumberg refere dois nomes fundamentais: o do biólogo inglês William Bateson (1861–1926) e o do seu colega espanhol Pere Alberch (1954–1998).

Segundo Alberch, não existe apenas um rio de informação genética que corre inexoravelmente até esgotar o seu percurso e desaguar numa forma biológica. A analogia é mais vasta e interessante: a química e a regulamentação dos genes navegam através de muitos cursos, remoinhos e afluentes que restringem as infinitas possibilidades de produzir qualquer criatura. Falamos de um jogo com regras específicas, e as anomalias tornam-se possíveis devido a essas normas. Por conseguinte, também merecem um lugar no tabuleiro de xadrez evolutivo.

Muito antes, em 1894, William Bateson já antecipava a ideia de que determinados factores presentes durante o desenvolvimento embrionário decidem a configuração que um animal poderá ter. As etapas iniciais de vida exerceriam uma poderosa força interna, enquanto a selecção exterior ou natural se faria sobretudo sentir na versatilidade das espécies. Os crocodilos e as tartarugas, por exemplo, não possuem cromossomas sexuais, mas nascem também machos e fêmeas consoante a temperatura exterior. Experiências com embriões de peixes de água doce cujos ovos são submetidos a temperaturas baixas nas primeiras 24 horas após a fertilização produzem um bestiário de estranhos seres: com duas cabeças, um único olho...

Resumindo: os darwinistas mais ortodoxos garantem que as espécies, embora sejam consideradas como entes próprios e independentes, estão na realidade ligadas entre si. Representam a expressão de um todo. Por sua vez, a corrente de pensamento de Bateson e Alberch acha que as espécies são descontínuas, o que seria demonstrado, precisamente, pelos animais disformes, verdadeiras excepções no império absoluto da selecção natural.

Na nossa espécie, a lista de excepções que confirmam a regra é longa e está bem documentada: desde homens com dois seios ou com um polegar a mais aos bebés com o rosto duplicado (o termo clínico é “diprosopia”).

Blumberg recorda o caso das irmãs Abigail e Brittany Hensel, nascidas em 1990: um único corpo e duas cabeças completamente desenvolvidas. “Estes exemplos talvez não constituam o motor da evolução, mas ajudam-nos a entendê-la melhor. Quer sejam produto dos genes ou consequência do desenvolvimento embrionário, conseguem sobreviver às alterações e adaptá-las à sua vida.”

Os ciclopes existem
Blumberg dedicou atenção especial ao caso das pessoas com um único olho, verdadadeiros ciclopes que, em vez de nariz, desenvolvem uma estrutura tubular por cima do órgão da vista. Ter ou não o apêndice nasal depende de os olhos ficarem separados no rosto durante o desenvolvimento embrionário, e de as células conseguirem migrar até ao centro da face para poder construí-lo. Não existe um gene específico que dê origem ao ciclopismo, mas determinadas alterações no ADN afectam, seguramente, o nariz e desencadeiam de forma indirecta a deficiência. Por outro lado, o gigante da Odisseia pode ter sido inspirado pelos fósseis de elefantes que povoavam antigamente Creta. Os gregos talvez acreditassem que a enorme fossa nasal era a cavidade ocular de uma criatura ciclópica.


L.M.A.
Super Interessante