Espaço de ajuda aos alunos nas várias disciplinas desde a Educação de Infância até ao Ensino Secundário
quinta-feira, 11 de maio de 2017
Notícia - Reacção imediata
A nossa sobrevivência depende, em primeira instância, de uma infinidade de reflexos, esses gestos automáticos que podemos treinar para torná-los mais eficazes e evitar que se deteriorem à medida que a idade avança.
Final de uma importante competição futebolística. O desafio saldou-se por um empate. As equipas disputam a vitória num tenso duelo de grandes penalidades. Um dos guarda-redes resiste melhor à pressão, adivinha a trajectória de quatro remates e consegue evitar dois golos, averbando o título para a sua equipa. Intuição, sorte? Na opinião dos neurologistas, é tudo uma questão de reflexos, um fenómeno abrangido pela capacidade motora de reacção do indivíduo.
Embora com origem no córtex cerebral, pois requer uma percepção a esse nível e um processamento relativamente complexo, este tipo de reacção é quase inconsciente quando a actividade é repetida, estereotipada e treinada. É por isso que podemos conduzir de forma automática, ou que o guarda-redes consegue chegar à bola e defender o penalty quase sem ter consciência do que está a fazer.
Por outro lado, é habitual associar-se o reflexo ao tempo de reacção perante um estímulo. É claro que tem de haver uma percepção, visual ou auditiva, uma decisão e uma resposta, mas, de acordo com os especialistas em medicina do desporto, embora a antecipação seja importante, é possível melhorar essa capacidade ao trabalhar a força explosiva do atleta e através de treinos específicos, destinados a avaliar as suas reacções aos estímulos. No caso de estar relacionado com a visão, treina-se o sentido da vista para o atleta se concentrar nos objectivos importantes.
Recentemente, comprovou-se, por exemplo, que a capacidade visual dos jogadores de ténis está muito desenvolvida. Roger Federer ou Rafael Nadal são extremamente rápidos e certeiros a processar imagens, o que lhes permite maior precisão quando necessitam de reconhecer objectos em movimento e tomar decisões sob pressão. "São muito mais rápidos a detectar a velocidade de um objecto móvel e, também, a decidir quando o tempo urge", explica Leila Overney, do Laboratório de Neurociência Cognitiva da Escola Politécnica Federal de Lausana (Suiça).
O melhor será, sem dúvida, que se possa exercitá-los. Um guarda-redes terá tanto mais reflexos, no sentido da rapidez de reacção motriz, quanto mais treinar. De igual modo, não conseguimos pontuar tanto num jogo de vídeo da primeira vez do que acontece quando já o conhecemos de cor e salteado.
Todavia, a prática não só permite melhorar os reflexos em geral como, sobretudo, aquele que foi treinado específica e sucessivamente. Por outras palavras, um guarda-redes de um clube de futebol não tem de possuir os reflexos indispensáveis para brilhar no ténis, nem um tenista saber defender grandes penalidades: como é evidente, cada pessoa possui determinada capacidade para um desporto, e não para outro.
Por serem decisões conscientes que requerem uma percepção cortical (do nosso córtex cerebral) e posterior processamento, considera-se que a actividade motora complexa se torna semi-automática ou inconsciente quando os gânglios basais (massa cerebral situada na zona profunda dos hemisférios) assumem o respectivo comando.
No entanto, a capacidade de reacção não é apenas importante no desporto. Os neurologistas recordam que os reflexos são fundamentais para a nossa sobrevivência no quotidiano, podendo ser definidos como "movimentos involuntários, rápidos e estereotipados, provocados por um estímulo"; consoante a natureza deste último, podem ser visuais, vestibulares, auditivos, posturais... Por outro lado, as vias reflexas possuem uma componente sensorial que se encarrega de receber a informação e transportá-la até à medula espinal, e um componente efector, que a transmite da medula ao músculo adequado.
Os reflexos são padrões hereditários de comportamentos comuns a toda uma espécie. Através deles, obtemos respostas simples, rápidas e automáticas para a defesa de uma parte ou de todo o corpo diante de um estímulo potencialmente lesivo", explica a dra. Victoria González, uma neurofisióloga espanhola cujos estudos sobre o chamado "reflexo auditivo de sobressalto" (que consiste na contracção generalizada de amplos grupos musculares perante um estímulo sonoro intenso e inesperado) confirmam como são indispensáveis. "Esse abalo brusco, ou susto, é rapidíssimo (ocorre em milésimos de segundo) e é acompanhado de uma reacção do sistema nervoso autónomo: uma descarga de adrenalina e um começo de hiperventilação. Depois, pode produzir-se uma reacção defensiva ou orientativa", explica a especialista.
O reflexo localiza a fonte acústica; se for intensa, os pequenos ossos do aparelho auditivo retesam-se automaticamente para que entre menos som no ouvido interno. Deste modo, protegem-se as células ciliadas, que transformam as vibrações em impulsos eléctricos; distingue-se melhor a acústica de intensidade elevada e ficamos em alerta.
O reflexo auditivo de sobressalto já se pode observar no início da vida. Por exemplo, os bebés com dois meses, que se assustam com o próprio choro, reagem aos ruídos estendendo os braços para a frente, com as palmas das mãos voltadas para cima e os polegares flectidos. Aliás, quando se bate com a mão suavemente junto da cabeça, o bebé abre e fecha os braços. A verdade é que os actos reflexos são considerados um sinal de evolução do próprio feto, nomeadamente no último trimestre de gestação, altura em que o sistema nervoso se torna maduro. São designados por "reflexos arcaicos" e desaparecem dois ou três meses depois do parto. Esses reflexos primitivos que podemos observar no recém-nascido (como o de sucção, da marcha automática, da preensão palmar e plantar, do abraço, etc.) são de origem cerebral e inatos.
As reacções do neonato traduzem-se em movimentos automáticos, que partem do tronco encefálico (a parte mais primitiva do cérebro) e não envolvem qualquer participação cortical, ou seja, não são controlados voluntariamente. Alguns gestos, como chupar o dedo ou dar pequenos pontapés, surgem ainda no ventre materno; quando decidem abandoná-lo, os reflexos ajudam o feto a colocar-se na posição adequada, dar a volta e descer pelo canal do parto.
Todavia, isto é só o começo. Pouco depois de nascer, o bebé já consegue mamar, graças ao reflexos de sucção e deglutição. Em seguida, os gestos primitivos são gradualmente substituídos por outros posturais, como o reflexo tónico assimétrico do pescoço, que relaciona o movimento da cabeça para um lado com o do braço equivalente, o qual se estica, o que se revela muito útil quando se está voltado de barriga para baixo.
A ausência de reflexos primitivos no recém-nascido pode ser indício de alterações neurológicas ou do sistema nervoso. A fim de comprovar o seu correcto funcionamento, o pediatra recorre a uma série de testes, como pô-lo de pé sobre uma superfície dura: o reflexo será inclinar-se e dar alguns passos. Outro teste será meter-lhe o dedo na boca para comprovar se tem o reflexo de sucção, se engole saliva e se volta a cabeça na sua direcção.
Embora estas reacções desapareçam passado algumas semanas, podem voltar a surgir na idade adulta, devido a doenças ou acidentes. Existe um teste (conhecido por "sinal de Babinski") para detectar uma eventual lesão mental ou uma paralisia cerebral: se se estimular a planta do pé e o dedo grande se separar dos outros e flectir para cima (o que é normal em crianças até aos dois anos), constitui um indício de lesão nas vias nervosas que ligam a medula espinal ao cérebro.
Por outro lado, alguns distúrbios neurológicos que produzem lesões no lóbulo frontal, como os acidentes vasculares cerebrais ou a demência frontotemporal, têm como consequência o aparecimento dos referidos reflexos primitivos, indício de que se está a gerar uma doença neurodegenerativa.
Seja como for, os reflexos mais estudados são os osteotendinosos, detectados através da percussão, com um pequeno martelo, de um tendão como o patelar ou rotuliano (no joelho), ou o bicipital (na prega do cotovelo). Com a extensão brusca do músculo, os receptores sensitivos activam-se e enviam um sinal à medula espinal, onde o neurónio-receptor entra em contacto com o neurónio-motor. É desta forma que evitamos esticar bruscamente os músculos para manter o equilíbrio; ou seja, quando estamos de pé, os nossos músculos impedem automaticamente a perda de postura, contraindo-se para evitar a descompensação.
Assim, o teste aos reflexos osteotendinosos destina-se a fornecer-nos informação sobre o funcionamento dos nervos periféricos sensitivos, a medula espinal e o controlo desses reflexos pelo córtex. Através do teste, fica-se a saber, entre outras coisas, que o nível quatro lombar está bem, isto é, que nem os neurónios sensitivos nem os motores desta região da medula sofreram qualquer alteração.
Do mesmo modo que os reflexos arcaicos podem ressurgir por causa de alguma doença, os osteotendinosos podem desaparecer devido a um problema que afecte os nervos periféricos, como a neuropatia diabética. Por sua vez, uma lesão no córtex cerebral pode provocar, em determinados casos, hiperreflexia ou reflexos exagerados. Todavia, mesmo que não haja qualquer problema de saúde, é normal que, com a idade (a partir dos 40 anos, segundo os especialistas), os reflexos comecem a tornar-se progressivamente mais lentos, embora sem afectar a qualidade de vida.
Na velhice, a situação muda. Os idosos têm, naturalmente, uma actividade motora mais lenta, mas certos sintomas, como quedas frequentes, movimentos desajeitados, lentidão em falar, dificuldade em tomar decisões ou inexpressividade facial podem constituir indícios de uma doença degenerativa. Alguns reflexos, como os que controlam a postura, começam a perder-se com a idade, o que favorece as quedas. A verdade é que, na história destes mecanismos automáticos, alguns vão ficando irremediavelmente para trás.
Um sofisticado sistema de defesa
Os reflexos são a resposta do organismo para proteger os sentidos das agressões do meio. Eis alguns dos mais importantes:
Posturais e tónicos. Mantêm a cabeça direita e o corpo na vertical. Utilizam informação do aparelho vestibular, que indica a posição da cabeça no espaço (reflexos vestibulares), e dos receptores nos músculos do pescoço, os quais indicam se estiver flectido (cervicais).
Superficiais ou cutâneos. São desencadeados por estimulação da pele, das mucosas e da córnea. Incluem o reflexo pupilar (dilatação da pupila perante uma dor).
Fotomotor. Contracção da pupila devido a um estímulo luminoso.
Corporais visuais. Movimentos exploratórios dos olhos e da cabeça para ler, por exemplo; e dos olhos, da cabeça e do pescoço perante um estímulo visual. Incluem ainda o reflexo do pestanejo diante de um eventual perigo.
Auditivo. Perante um ruído demasiado forte, favorece a rigidez automática dos pequenos ossos do ouvido, de forma a passar menos som para o ouvido interno
Tussígeno. A irritação da laringe, da traqueia ou dos brônquios produz tosse para eliminar secreções e corpos estranhos.
Nauseoso. Produz vómitos quando se estimula a garganta ou a parte posterior da boca.
Do espirro. Ajuda a expulsar ar e partículas quando as vias nasais ficam irritadas.
Do bocejo. Surge quando o organismo precisa de oxigénio suplementar.
J.M.D.
SUPER 148 - Agosto 2010
SUPER 148 - Agosto 2010
quarta-feira, 10 de maio de 2017
Biografia - Pierre Curie
(1859 - 1906) Físico francês nascido em Paris, que com a esposa formou o mais brilhante casal de pesquisadores da história, o casal Curie. O pai, um médico apaixonado pela matemática, desempenhou papel fundamental em sua formação científica, incentivando-o nos estudos de geometria espacial, disciplina para a qual demonstrava grande aptidão. Aos 18 anos formou-se em ciências e ocupou o cargo de pesquisador de laboratório na Sorbonne. Ali conheceu a polonesa Marie, com quem se casou (1895), mesmo ano em que obteve o grau de doutor defendendo uma tese sobre eletromagnetismo. O casal Curie formou uma notável parceria e fez grandes descobertas. Dois anos depois da descoberta da radioatividade por Antoine Henri Becquerel, ele e sua mulher, criadores do termo radioatividade, trabalhando em um modestíssimo laboratório da Escola de Física e Química de Paris, onde ensinava física, encontraram fontes radiativas muito mais fortes que o urânio: um eles chamaram de polônio em homenagem a Polônia e o outro de rádio assim chamado depois que o casal Curie constatou nesse elemento o fenômeno físico descrito por Becquerel (1896) e que ele chamou radioatividade, ambos de importância fundamental no grande avanço que seus estudos imprimiram ao conhecimento da estrutura da matéria.
Isolaram o rádio e o polônio e verificaram que o rádio era tão potente que podia provocar ferimentos sérios e até fatais nas pessoas que dele se aproximassem. Nas pesquisas dos Curie, ele dedicava-se ao estudo da radioatividade e Marie se ocupava dos tratamentos químicos, particularmente no da pechblenda ou uraninita, mineral no qual havia sido detectada uma radioatividade superior à do urânio puro.
Os trabalhos de pesquisa do casal tornaram possível o aproveitamento das propriedades radioativas dos elementos químicos e a criação de tecnologias relacionadas ao uso dos raios X e da energia nuclear. Dividiram o Prêmio Nobel de Física (1904) com Becquerel, por seus trabalhos com radioatividade. Ingressou na Academia de Ciências (1905) e uno depois (19/04/1906) morreu atropelado em Paris, ao sair de um almoço na Associação de Professores da Faculdade de Ciências. Entre suas obras escritas as mais importantes foram: Investigações sobre as propriedades magnéticas do aço temperado, Pesquisas sobre as substâncias radioativas, A isotopia e os elementos isótopos e Tratado da radioatividade.
terça-feira, 9 de maio de 2017
Conteúdo - Confúcio
A ideologia de Confúcio sobre a organização da sociedade procurava recuperar os valores antigos, perdidos pelos homens de sua época. No entanto, em sua busca pelo Tao, ele usava uma abordagem diferente da noção de desprendimento proposta pelos taoistas. A sua teoria baseava-se num critério mais realístico, onde a prática do comportamento ritual daria uma possibilidade real aos praticantes de sua doutrina de viverem em harmonia.
Confúcio não pregava a aceitação plena de um papel definido para os elementos da sociedade, mas sim que cada um cumprisse com seu dever de forma correta. Já o condicionamento dos hábitos serviria para temperar os espíritos e evitar os excessos. Logo, a sua doutrina apregoava a criação de uma sociedade capaz, culturalmente instruída e disposta ao bem-estar comum. A sua escola foi sistematizada nos seguintes princípios:
-Ren, humanidade (altruísmo);
-Li, ou cortesia ritual;
-Zhi, conhecimento ou sabedoria moral;
-Xin, integridade;
-Zhing, fidelidade;
-Yi, justiça, retidão, honradez.
Cada um desses princípios ligar-se-ia às características que, para ele, se encontravam ausentes ou decadentes na sociedade.
Confúcio não procurou uma definição aprofundada sobre a natureza humana, mas parece ter acreditado sempre no valor da educação para a condicionar. Sua bibliografia consta de três livros básicos, sendo que os dois últimos são atribuídos aos seus discípulos:
-Lun yu (Diálogos, Analectos), no qual se encontra a síntese de sua doutrina.
-Dà Xué (大學) (Grande Ensinamento) e
-Zhong Yong (Jung Yung), ou a "Doutrina do Meio".
Após sua morte, Confúcio recebeu o título de "Senhor Propagador da Cultura, Sábio Supremo e Grande Realizador" (大成至聖文宣王), nome que se encontra registado em seu túmulo.
Ao contrário de profetas de religiões monoteístas, Confúcio não pregava uma teologia que conduzisse a humanidade a uma redenção pessoal. Pregava uma filosofia que buscava a redenção do Estado mediante a correção do comportamento individual. Tratava-se de uma doutrina orientada para esse mundo, pregando um código de conduta social e não um caminho para a vida após a morte.
Discípulos de Confúcio e seu único neto, Zisi, continuaram a sua escola filosófica após sua morte. Estes esforços espalharam os ideais de Confúcio para os estudantes, que, depois, se tornaram funcionários em muitas das cortes reais chinesas, dando, assim, ao confucionismo, o primeiro teste em grande escala de seus dogmas. Apesar de confiar fortemente no sistema ético-político de Confúcio, dois de seus mais famosos seguidores enfatizaram aspectos radicalmente diferentes de seus ensinamentos. Mêncio (século IV a.C.) articulou a bondade inata no ser humano como uma fonte das intuições éticas que guiam as pessoas para rén, yì, e lǐ, enquanto Xun Zi (século III) ressaltou os aspectos realista e materialista do pensamento de Confúcio, salientando que a moralidade é incutida na sociedade através da tradição e, nos indivíduos, através da formação.
Este realinhamento no pensamento de Confúcio foi paralelo ao desenvolvimento do legalismo, que viu a piedade filial como interesse e não como um instrumento útil para um governante criar um Estado eficiente. A divergência entre estas duas filosofias políticas veio à tona em 223 a.C., quando o estado de Qin conquistou toda a China. Li Ssu, o primeiro-ministro da Dinastia Qin, convenceu Qin Shi Huang a abandonar as recomendações confucionistas de distribuir feudos a parentes (o que correspondia a uma volta ao sistema anterior da Dinastia Zhou), que ele via como contrárias à ideia legalista de centralização do Estado em torno do governante. Quando os conselheiros de Confúcio defenderam sua posição, Li Ssu executou muitos estudiosos confucionistas e seus livros foram queimados, o que foi considerado um duro golpe para a filosofia e a sabedoria chinesas.
As ideias de Confúcio foram adotadas como filosofia oficial do Estado durante a Dinastia Han (206 AC - 220 DC)ː o conhecimento dessas ideias passou a ser uma das principais qualificações exigidas de funcionários públicos, que eram selecionados por meio de concorridos exames e que eram encarregados de manter a harmonia no Império.
Notícia - Afinal, o “gene da longevidade” não existe
A investigação de Filipe Gomes Cabreiro foi publicada na Nature e destrói a relação íntima que se pensava existir entre as sirtuínas e a longevidade. Cai por terra também a ideia abraçada pelo mundo dos cosméticos que o resveratrol (produto natural encontrado no vinho tinto) é capaz de hiperactivar esta enzima, perdendo assim os seus super poderes no atraso do processo de envelhecimento. O investigador português a trabalhar no University College London (UCL) participou no estudo que poderá ser a machadada final no conceito criado no século XXI da existência do chamado “gene de longevidade”.
Os primeiros resultados divulgados sobre as sirtuínas (por Sinclair e Guarente) referiam que a sua sobre-expressão era capaz de aumentar a longevidade e também que estas eram necessárias para os efeitos de restrição calórica [capaz de atrasar o envelhecimento].
Por outro lado, demonstravam também que o resveratrol activava as sirtuínas e, consequentemente, aumentava a longevidade. Tudo isto foi comprovado primeiro no modelo da levedura e, mais tarde, em vermes (C. elegans) e moscas (Drosophila). No caso do verme sustentava-se mesmo que a activação de sirtuínas podia levar estes a viver 50 por cento mais tempo. O popular gene das sirtuínas acabou por ficar conhecido como “gene da longevidade”, tal era o seu promissor potencial.
Porém, o trabalho de outros grupos de investigação fez perceber que, afinal, as sirtuínas não eram necessárias para o desejado efeito de restrição calórica na levedura e que não era claro que o resveratrol activasse as sirtuínas. O castelo de cartas começava a cair. Outras investigações feitas mais tarde provaram também que o resveratrol não aumentava a longevidade nos vermes ou nas moscas e que as sirtuínas não eram necessárias para a restrição calórica nos vermes. Mais um ataque ao conceito inicialmente proposto.
Agora, o trabalho apresentado por Filipe Gomes Cabreiro na Nature – com colegas da UCL, da Universidade de Washington (Seattle), e da Universidade de Semmelweis (Budapeste) - acaba por destruir o pouco que restava. “Mostramos que de facto a manipulação deste gene não promove a longevidade quer da mosca quer do verme, que o resveratrol não activa a sirtuínas da mosca e que as sirtuínas não são necessárias para a restrição calórica nestes organismos”, resume o investigador ao PÚBLICO, numa resposta por email.
Assim, a única informação que parece ainda permanecer de pé é que a sobre-expressão desta enzima aumenta a longevidade na levedura. “Contudo, estudos recentes não publicados mostram que a sobre-expressão desta enzima aumenta a longevidade apenas da levedura (Budding yeast) mas não da Fission Yeast (que possui processos biológicos mais semelhantes aos processos humanos)”, explica Filipe Cabreiro.
Ao longo dos últimos anos, as sirtuínas tornaram-se num “produto” muito apetecível. Aliás, a empresa ligada a esta descoberta foi comprada em 2003 pela farmacêutica Glaxo SmithKline por 720 milhões de dólares. O objectivo seria o desenvolvimento de produtos anti-envelhecimento e drogas que prevenissem doenças associadas ao envelhecimento, incluindo diabetes, doenças cardiovasculares e mesmo cancro.
O alegado papel do resveratrol também tem sido explorado (no mundo dos cosméticos, por exemplo). Vários cremes anti-envelhecimento foram lançados no mercado contendo o produto natural encontrado no vinho tinto e supostamente um activador das sirtuínas. É o fim deste negócio? “O envelhecimento é multi-factorial. Assumir a ideia vendida por estes papers que existia um único gene capaz de controlar o envelhecimento era de facto muito simplista. Este estudo, conjuntamente com os anteriores põe de facto em causa todos os produtos que tinham como alvo as sirtuínas de forma a retardar o envelhecimento. Não só as sirtuínas não têm nenhum efeito na longevidade como para além disso o resveratrol, apesar de ter benefícios, não activa as sirtuínas. Contudo, não excluímos que o resveratrol tenha outros benefícios, mas estes não são mediados pelas sirtuínas e mesmo que fossem estas não teriam o efeito desejado e esperado com base nas anteriores descobertas”, responde Filipe Cabreiro.
segunda-feira, 8 de maio de 2017
Biografia - Selma Ottiliana Lovisa Lagerlöf
Escritora sueca, detentora do 1º Prémio Nobel da Literatura para uma mulher, nasceu em Marbacka. Antes deste prémio já a Universidade de Upsala a distinguira com o doutoramento honoris causa, em 1907. Em 1882 terminou o curso de educadora infantil e durante dez anos foi professora. O primeiro romance foi "Lenda de Gosta Berling", 1891 que teve o apoio da baronesa Sophie Aldesparre, livro transposto para o cinema mais tarde, tendo como protagonista Greta Garbo, também sueca. Em 1894 edita o segundo livro e conhece aquela que vai ser a sua amiga sentimental de toda uma vida - Sofia Elkan. O pai de Selma, militar reformado vendeu, devido a dívidas, a casa de família que mais tarde Selma conseguiu recuperar. O seu mais fabuloso sucesso editorial foi "A Viagem Maravilhosa de Nils Holgerssn pela Suécia", publicado, em 1906 e que foi traduzido em quase todas as línguas. Os seus textos escritos para crianças e jovens são maravilhosos e retratam a Suécia. No entanto Selma escreveu também "Lendas de Jerusalém", 1902 e "Lendas de Cristo", 1904.
Biografia retirada daqui
Biografia - Pieter Zeeman
(1865 - 1943) Físico holandês nascido em Zonnemaire, descobridor do efeito Zeeman. Estudou em Leiden com Lorentz, tornado-se um conferencista (1890). Foi designado professor de física da Universidade de Amsterdã (1900-1935) e passou a dirigir o seu Instituto de Física (1908). Em Leiden ele descobriu o efeito Zeeman, efeito do magnetismo sobre a luz, ou seja, quando um raio de luz de uma fonte colocada em um campo magnético é examinado espectroscopicamente, a linha espectral divide em vários componentes. Esta descoberta confirmou a teoria de Lorentz de radiação eletromagnética, e ajudou os físicos na investigação dos átomos, e os astrônomos na medição do campo magnético das estrelas e, por este feito, ganhou o Prêmio Nobel de Física (1902) com Hendrick Antoon Lorentz, da Universidade de Leiden.
Biografia - D. Pedro IV
Segundo filho varão de D. João VI e de D. Carlota Joaquina, a morte de seu irmão primogénito, D. António, encaminhou-o para a herança da coroa de Portugal.
A sua infância decorreria em ambiente carregado, entre o instável ambiente familiar e os acontecimentos sociais e políticos, desde os ecos da Revolução Francesa, às ameaças napoleónicas, culminando pela fuga da corte para o Brasil perante as invasões francesas (1807). Contava então 9 anos de idade e a sua educação decorreu à rédea solta, sem estudos sistemáticos. Sofria de epilepsia, elemento de grande importância a considerar na compreensão da sua personalidade. Educado sem «luzes excessivas», os anos depressa lhe atribuem funções cada vez mais elevadas.
No Brasil casou com a arquiduquesa Leopoldina de Áustria, de quem teve dois filhos: D. Maria da Glória (1819) e D. Pedro (1825). A partir da revolução liberal portuguesa de 1820, os acontecimentos, quer no Brasil quer em Portugal, atropelam-se em ritmo acelerante para o feitio de D. João VI; por intimativas de Lisboa, nomeia regente do Brasil seu filho D. Pedro (devido à agitação popular no Rio, Pará e na Baía, de inspiração liberal) e volta a Portugal. Aqui, as Cortes Gerais, preocupadas com os acontecimentos brasileiros e a ascendência a reino da antiga colónia, pensam mandar o infante D. Pedro em viagem pela Europa. Mas antes que o regente do Brasil tomasse conhecimento, escreve ele a seu pai acerca das ideias de independência que alastravam no Brasil, e das quais D. Pedro viria a ser uma pedra fundamental: com efeito, a independência cobrir-se-ia com D. Pedro que, a dada altura, se teria convencido que em vez de movido, era o motor dos acontecimentos.
Em 7 de Setembro de 1822, o regente proclamava formalmente a independência brasileira, junto ao lpiranga (estado de São Paulo), sendo, mais tarde, proclamado imperador do Brasil. Quando em 1826, D. João VI morre imprevistamente, e se abre o problema da sucessão, o imperador brasileiro passa a ser uma das personagens fundamentais do drama nacional, que principiou a desenrolar-se e que termina em 1834 com a vitória dos liberais. D. Pedro foi proclamado rei de Portugal, conforme as determinações paternais. No decurso do seu breve e longínquo reinado, confirma D. Isabel Maria na regência, e outorga aos seus súbditos uma Carta Constitucional e abdica, condicionalmente, em sua filha D. Maria da Glória, com a condição do casamento desta com seu tio D. Miguel, ausente em Viena de Áustria, e que devia jurar a Carta. Após a doação da Carta os acontecimentos precipitaram-se: em Portugal, D. Miguel começa a governar como rei absoluto (1827), os liberais expatriados, presos ou a espernearem nas forcas; no Brasil, o choque, cada vez mais patente entre os sopros dos ventos liberais, e o autoritarismo do imperador, arrasta-o à gradual perda de prestígio e à dramática abdicação em seu filho D. Pedro II (7-4-1831).
Tendo abdicado duas coroas, o ex-imperador do Brasil e ex-rei de Portugal, reduzido ao título de duque de Bragança, abandona o Brasil e dirige-se para a Europa com a filha D. Maria II, rainha de nome, por cujo trono se batiam os liberais portugueses espalhados pela Europa, ou reunidos na ilha Terceira. O duque de Bragança decide empenhar-se pessoalmente na solução do pleito e a 3 de Março de 1832 assume a regência e nomeia um ministério do qual faz parte Mouzinho da Silveira. Data de então a fase decisiva da luta entre liberais e absolutistas, caracterizada, fundamentalmente, pela revolucionária legislação de Mouzinho e pelo entusiasmo e abnegação de D. Pedro, na preparação da expedição militar que, dos Açores, chegará às costas portuguesas (no Norte, próximo de Mindelo), para sentar no trono a jovem soberana e impor a Carta. E nos longos meses do cerco do Porto que o regente, não obstante os defeitos de carácter e de educação, dá a plena medida da pertinácia e dedicação pela causa que encabeçava. A convenção de Évora Monte põe fim a esta cruel guerra civil, e exila o rei absoluto. Pouco mais viveria D. Pedro: só o tempo suficiente para ver as Cortes reunidas de acordo com a carta, tendo falecido 4 dias após o começo do reinado de D. Maria II; apenas com 36 anos. Apaixonado, incoerente e corajoso, o nome e a actuação de D. Pedro são indissociáveis da experiência liberal portuguesa, que assinala o início do Portugal contemporâneo: mal ou bem, melhor ou pior, o possível Portugal contemporâneo e europeu principiou aí.
Ficha genealógica:
D. Pedro IV nasceu no Palácio de Queluz a 12 de Outubro de 1798, recebendo o nome de Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Serafim de Bragança e Bourbon, tendo falecido no mesmo palácio, a 24 de Setembro de 1834, foi sepultado no Panteão de S. Vicente de Fora, sendo transladado para o Brasil em 1972.
Foi o 1.º imperador do Brasil, de 1822 a 1831, abdicando do trono para vir à Europa defender os direitos de sua filha D. Maria da Glória ao trono português. Guardou então para si o título de duque de Bragança.
Casou em 1817 com D. Maria Leopoldina Josefa Carolina, que nasceu a 22 de Janeiro de 1797, e faleceu no Rio de Janeiro, a 11 de Dezembro de 1826, filha de Francisco I e de D. Maria Teresa, últimos imperadores do Sacro Império Romano Germânico , e primeiros da Áustria.
Do casamento nasceram:
1. D. Maria da Glória, que sucedeu no trono;
2. D. Miguel. Nasceu e faleceu no Rio de Janeiro, a 24 de Abril de 1820;
3. D. João Carlos. Nasceu no Rio de Janeiro a 6 de Março de 1821, e faleceu na mesma cidade a 4 de Fevereiro de 1822;
4. D. Januária Maria. Nasceu no Rio de Janeiro, a 11 de Março de 1822, e faleceu em Nice, França, em 13 de Março de 1901. Casou em 1844 com Luís Carlos Maria José de Bourbon, nascido em Nápoles, a 19 de Julho de 1824, e morreu em Paris, a 5 de Março de 1897, filho de Francisco I, rei das Duas Sicílias;
5. D. Paula Mariana. Nasceu no Rio de Janeiro, a 17 de Fevereiro de 1823, e faleceu na mesma cidade, em 16 de Janeiro de 1833;
6. D. Francisca Carolina. Nasceu a 2 de Agosto de 1824, no Rio de Janeiro, e morreu em Paris, a 27 de Março de 1898. Casou em 1843 com Francisco Armando Filipe Luís Maria de Orléans (1818-1900), filho de Luís Filipe e de D. Maria Amélia, reis dos Franceses, e príncipe de Joinville e duque de Pentièvre;
7. D. Pedro. Nasceu no paço de São Cristóvão do Rio de Janeiro, a 2 de Dezembro de 1825, tendo recebido o nome de Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bebiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Rafael Gonzaga, tendo falecido em Paris a 5 de Dezembro de 1891. Foi sepultado no Panteão de S. Vicente de Fora, tendo sido transladado para o Brasil, estando sepultado na catedral de Petrópolis.
Ascendeu ao trono do Brasil, por abdicação de seu pai, em 7 de Abril de 1831. Casou em 1843 com D. Teresa Cristina de Bourbon, nascida em Nápoles no dia 14 de Março de 1822, tendo falecido no Porto em 28 de Dezembro de 1889, filha de Francisco I, rei das Duas Sicílias, e de D. Maria Isabel de Bourbon, com geração.
D. Pedro IV casou em segundas núpcias, em 1829, com D. Amélia de Beauharnais, nascida em Milão em 31 de Julho de 1812, e falecida em Lisboa, no Palácio das Janelas Verdes, em 26 de Janeiro de 1873, filha de Eugénio de Beauharnais, então vice-rei de Itália, filho do primeiro casamento de Josefina, Imperatriz dos Franceses, e da princesa Augusta Amélia, filha de Maximiano José I, rei da Baviera.
Do casamento nasceram:
8. D. Maria Amélia. nasceu em paris, a 1 de Dezembro de 1831, e morreu no Funchal, a 4 de Fevereiro de 1853, sendo sepultada na quinta do Lambert e mais tarde transladada para o Panteão de S. Vicente de Fora. Morreu solteira;
9. Vários filhos de outras ligações.
Fontes:
Joel Serrão (dir.)
Pequeno Dicionário de História de Portugal,
Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1976
Joaquim Veríssimo Serrão
História de Portugal, Volume VII: A Instauração do Liberalismo (1807-1832), e
História de Portugal, Volume VIII: Do Mindelo à Regeneração (1832-1851)
Lisboa, Verbo, 1984 e 1986
Nobreza de Portugal, vol. I
Lisboa, Editorial Enciclopédica,
domingo, 7 de maio de 2017
Conteúdo - Confúcio
Confúcio, também conhecido como K'ung Ch'iu, K'ung Chung-ni ou Confucius,[7] nasceu em meados do século VI (551 a.C.), em Tsou, uma pequena cidade no estado de Lu, hoje Shantung. Segundo algumas fontes antigas, teria nascido em 27 de agosto de 552 a.C. (ou seja, no vigésimo primeiro ano do duque Hsiang). Esse estado é denominado de "terra santa" pelos chineses. Confúcio estava longe de se originar de uma família abastada, embora seja dito que ele tinha ascendência aristocrática. Seu pai, Shu-Liang He, antes magistrado e guerreiro de certa fama, tinha setenta anos quando se casou com a mãe de Confúcio, uma jovem de quinze anos chamada Yen Cheng Tsai, que diziam ser descendente de Po Chi'in, o filho mais velho do Duque de Chou, cujo sobrenome era Chi.
Dos onze filhos, Confúcio era o mais novo. Seu pai morreu quando ele tinha três anos de idade, o que o obrigou a trabalhar desde muito jovem para ajudar no sustento da família. Aos quinze anos, resolveu dedicar suas energias em busca do aprendizado. Em vários estágios de sua vida, empregou suas habilidades como pastor, vaqueiro, funcionário público e guarda-livros. Aos dezenove anos, se casou com uma jovem chamada Chi-Kuan. Confúcio teve um filho chamado K'ung Li.
Confúcio viajou por diversos lugares, esteve em íntimo contacto com o povo e pregou a necessidade de uma mudança total do sistema de governo por outro que se destinasse a assegurar o bem-estar dos súbditos, pondo, em prática, processos tão simples como a diminuição de contribuições e o abrandamento das penalidades. Já idoso, retirou-se para a sua terra natal, onde morreu com 72 anos.
Confúcio é, biograficamente, segundo o historiador chinês Sima Qian (século II a.C.), uma representação típica do herói chinês. Ele era alto, forte, enxergava longe, tinha uma barriga cheia de Chi, usava longa barba (símbolo de sabedoria), vestia-se bem e era simples. Era também de um comportamento exemplar, demonstrando sua doutrina nos seus actos. Pescava com o anzol, dando opção aos peixes, e caçava com um arco pequeno, para que os animais pudessem fugir. Comia sem falar, era directo, franco e acreditava ser um representante do céu.
Notícia - Cavalheiros cientistas
Quando (quase) ainda não havia profissionais
Ricos e filantropos, investigavam por puro prazer. Sem eles, o progresso teria sido muito diferente. Na segunda metade do século XIX, um jovem escocês, Robert Kidston (1852–1924), herdou uma boa quantia, o que lhe permitiu viver sem dificuldades e pagar os seus estudos de paleontologia e posterior investigação sobre a flora arcaica. Após a sua morte, a colecção de 7500 plantas e 400 desenhos que deixara foi doada à British Geological Survey (BGS), instituição dedicada ao estudo da Terra. Ali permaneceu, semi-esquecida, até que alguém se apercebeu, recentemente, que esses fósseis de 360 milhões de anos, em excelente estado de preservação, constituíam uma valiosa ferramenta para analisar as alterações climáticas e as florestas paleozóicas.
A importância do legado de Kidston é equiparável à de outros gentlemen scientists, cavalheiros abastados que se dedicaram à investigação simplesmente como hobby. A verdade é que muitos cientistas dos séculos XVII, XVIII e XIX, aos quais devemos grandes descobertas em diversos campos, puderam consagrar a vida ao estudo por descenderem de famílias nobres ou terem casado com mulheres ricas, numa época ou que não havia apoios económicos dos governos para esse fim. Quase todos pertenciam à aristocracia britânica e faziam parte, como o próprio Kidston, da Royal Society, uma associação formada em Londres, em 1660, por um grupo de homens irrequietos que se reuniam para debater filosofia, anatomia, matemática e ciência em geral.
Entre os fundadores, havia personalidades como William Brouncker ou Sir Christopher Wren, filho do diácono dos reis de Inglaterra e o arquitecto responsável pela reconstrução da Catedral de São Paulo, em Londres. Integrava também o aristocrata irlandês Robert Boyle (1627–1691), herdeiro do conde de Cork e precursor da química moderna (é conhecido pela lei de Boyle-Mariotte, sobre o volume dos gases). Aos 15 anos, decidira viajar pelo mundo; quando regressou, já com 17 anos, descobriu que tinha herdado a propriedade de Stalbridge e várias quintas na Irlanda, uma autêntica fortuna que consagrou à investigação.
Duas épocas
Os séculos XVIII e XIX foram muito distintos. No primeiro, os grandes estados europeus, guiados pelas noções do despotismo esclarecido, criaram as academias de ciências para acolher a elite da investigação; fundaram observatórios de astronomia, escolas militares, jardins botânicos, hospitais e colégios de cirurgiões e financiaram expedições científicas. O século XIX, em contrapartida, foi o tempo das revoluções burguesas e do desenvolvimento da universidade moderna, que combina ensino e investigação, como explica o historiador E. Ausejo: “O perfil maioritário deixa de ser o do rico excêntrico para se transformar no do burguês abastado com acesso a uma educação superior e, através disso, a uma profissão científica com inegáveis vantagens para a ascensão social das classes médias.”
Esta evolução não obsta a que muitos cientistas proviessem de famílias nobres ou de grandes tradições, como a de Henry Cavendish (1731–1810). O físico e químico inglês, que descobriu o hidrogénio e estudou, pela primeira vez, a massa da Terra e a força gravitacional, descendia dos duques de Kent e dos duques de Devonshire, linhagens que remontam ao tempo dos normandos. Alguns dos gentlemen scientists constituíam uma nova versão dos sábios do Renascimento, cujo raio de acção abarcava numerosas matérias. Foi o caso de Goldsworthy Gurney (1793–1875), cirurgião, químico, arquitecto, construtor e inventor responsável pelo desenvolvimento dos primeiros veículos a vapor, precursores dos actuais automóveis.
Viajar e pensar
Parece óbvio que a condição financeira deve ter ajudado muito esses investigadores aristocráticos e, embora E. Ausejo duvide de que o estereótipo de cientista milionário fosse generalizado (afirma que se trata de “casos pitorescos mas não tão frequentes; a ciência não foi uma obra de senhorios ociosos”), o facto é que a sua fortuna permitiu a alguns, como Alexander von Humboldt (1769–1859), dedicar a vida à exploração e ao estudo. Graças à avultada herança recebida da mãe, este cavalheiro prussiano pôde viajar, primeiro, até à Grã-Bretanha, para se formar, e, depois, partir à descoberta de outros continentes. Humboldt foi geógrafo e naturalista, além de especialista em etnografia, astronomia, vulcanologia, física e outras matérias.
Foi, também, um testamento que mudou a vida do geólogo e vulcanólogo escocês James Hutton (1726–1797), responsável por formular o princípio uniformista, segundo o qual os processos naturais que agiram no passado são os mesmos que operam no presente. Hutton era médico mas trocou a profissão pela agricultura quando herdou uma grande propriedade paterna. Como os trabalhos na quinta iam de vento em popa, mudou-se para Edimburgo para se dedicar a tempo inteiro ao estudo da superficie terrestre.
O laboratório em casa
Outro gentleman scientist foi Charles Darwin (1809–1882). Membro da Royal Society, nunca teve problemas económicos. Pelo contrário, provinha de uma família de médicos com um modo de vida folgado e a abastança cresceu ainda mais quando casou com a prima, Emma Wedgwood, herdeira de uma grande fortuna graças ao negócio de olaria dos pais. Isso permitiu a Darwin trabalhar toda a vida em casa e consagrar-se à investigação e à publicação das suas obras.
O autor de A Origem das Espécies partilhava muitas características com o primo, Sir Francis Galton (1822–1911), homem de múltiplos interesses que se dedicou à geografia, à meteorologia e à estatística, além de explorar os trópicos, fundar a psicologia diferencial e inventar a identificação através das impressões digitais. Galton pertencia a uma família que fez dinheiro com a banca, o aço, as armas e um ou outro casamento com mulheres ricas. Por outro lado, herdou também do passado as inquietações científicas do avô, Samuel John, que publicou vários livros e foi membro da Lunar Society, um clube de filósofos e intelectuais que se autodenominavam “lunáticos” e se reuniam em noites de Lua Cheia. Entre eles, encontravam-se James Watt, o matemático e engenheiro escocês que foi o artífice da máquina de vapor, e Erasmus Darwin, avô de Charles e pioneiro do evolucionismo.
A botânica foi uma das disciplinas que mais atraíram os investigadores do século XIX, como o londrino Joseph Banks (1743–1820). Rico de nascença, acompanhou Cook na sua primeira grande viagem, entre 1768 e 1771, e introduziu na Europa muitas árvores e plantas desconhecidas até à data, como o eucalipto e a acácia.
O estudo do reino vegetal desenvolveu-se igualmente em Portugal durante o Século das Luzes, quando a ciência estava nas mãos de uma minoria culta, formada por nobres, diplomatas, homens da Igreja... Durante esse período fértil do século XVIII, o conde da Ericeira promoveria as Conferências Discretas e Eruditas, de onde saíram sócios para criar a Academia da Ciência (1720); o rei D. José adere ao movimento do despotismo esclarecido e apoia o marquês de Pombal na instituição do Colégio dos Nobres e na criação de gabinetes, laboratórios e museus. Já no século XIX, é criado o Jardim Botânico da Universidade de Lisboa, por iniciativa do conde de Ficalho e de Andrade Corvo, considerado um “moderno e útil complemento para o ensino e investigação botânicos na Escola Politécnica, símbolo dos novos rumos de progresso social e científico”.
Eclosão vegetal
Embora Francisco Manuel de Mello Breyner, o conde de Ficalho, se tivesse destacado como botânico e se enquadre no perfil de gentleman scientist, outros nomes conhecidos da botânica portuguesa talvez tivessem nomes menos sonantes ou não pudessem dispor de tantos recursos, mas a sua obra foi igualmente importante, como é o caso, entre outros, de Avelar Brotero (1744–1828), professor de botânica e agricultura na Universidade de Coimbra e autor de obras como Flora Lusitânica, na qual identificava cerca de 1800 espécies, muitas delas desconhecidas até então. Em sua honra, foi fundada a Sociedade Broteriana, agremiação científica que viria a exercer grande importância no desenvolvimento da botânica portuguesa através do seu Boletim.
Outro indiscutível cavalheiro da ciência foi o abade Correia da Serra (1750–1823), que se dedicou sobretudo à investigação nas áreas da botânica e da geologia e fundou, juntamente com o duque de Lafões, a Academia de Ciências de Lisboa. De grande prestígio intelectual, conviveu com os maiores cientistas da sua época e publicou trabalhos nas mais conceituadas revistas, tendo mesmo sido descrito pelo presidente Thomas Jefferson, dos Estados Unidos, como “o homem mais erudito que jamais conheci”. Com o prestígio e os conhecimentos que possuía no exterior, este presbítero secular e fidalgo da Casa Real ajudou o país a desenvolver a investigação e a mentalidade científicas, num esforço para Portugal não ficar completamente para trás em termos europeus.
Claro que, apesar disso, tudo era feito de modo muito mais modesto do que, por exemplo, no Reino Unido. Os meios eram incomparavelmente menores e reinava a precariedade. A “descolagem” científica apenas se verificaria mais de um século depois. Seja como for, muitos investigadores europeus dos séculos XVIII e XIX eram amadores que se dedicavam à ciência por diversão, embora ganhassem a vida noutras profissões. O próprio Darwin era um jovem cientista amador quando embarcou no HMS Beagle; o primeiro microscópio composto foi inventado por Zacharias Janssen, um mercador holandês e cientista amador, e há muitos outros exemplos.
Colecções e museus
Em Portugal (como noutros países), há diversos exemplos de grandes coleccionadores cujas obras de arte e objectos reunidos ao longo da existência deram origem à criação de museus baptizados com os seus nomes: é o caso do Museu Calouste Gulbenkian ou, mais recentemente, do Museu Berardo, ambos situados em Lisboa. Tanto um como outro podem ser considerados mecenas das artes.
Os belgas Paul Otlet (1868–1944) e Henri La Fontaine (1854–1943), filhos de famílias da alta burguesia, foram também grandes coleccionadores. Juntos, criaram a classificação decimal universal, método bibliográfico para ordenar e catalogar as obras nas bibliotecas, além do Mundaneum, um espaço que reuniria todo o saber em pequenas fichas interligadas. Otlet foi um visionário que antecipou a internet: “A mesa de trabalho deixará de estar cheia de livros. Em vez disso, terá um ecrã e um telefone. Um edifício imenso servirá para armazenar todos os livros e toda a informação e, através de uma chamada, será possível pedir qualquer página para se poder ver no ecrã”, escreveu. O belga imaginou “uma máquina para o trabalho intelectual, suporte de uma enciclopédia completa e colectiva que possa reflectir o pensamento humano e a materialização gráfica de todas as ciências e as artes; todos os pensadores de todas as épocas estariam a colaborar na sua criação; esse novo meio vai permitir formar um Livro Universal”. Uma obra assim acolheria o trabalho de todos os cavalheiros da ciência.
Altruístas do século XXI
Actualmente, não há muitos cientistas a trabalhar exclusivamente por amor à ciência, mas ainda resta um ou outro. De acordo com Millán Muñoz, director do Centro de Estudos Ambientais do Mediterrâneo (CEAM), um deles é Robert Schemenauer, um meteorologista canadiano que, após trabalhar durante anos para o Governo do seu país, decidiu retirar-se para uma casa nas montanhas. Ali, desenvolveu um sistema de recolha de água do nevoeiro e neblinas com uma rede de polipropileno (semelhante ao nylon), capaz de captar e armazenar a humidade. Depois, fundou a FogQuest (http://www.fogquest.org), organização sem fins lucrativos destinada a promover projectos para abastecer de água comunidades rurais de países em vias de desenvolvimento. Algumas povoações do planalto sul-americano e de vários países africanos já dispõem de água potável graças a esta técnica.
J.M.D./I.J.
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